sexta-feira, 9 de maio de 2014

O FORMIGUEIRO


Opinião

O formigueiro






O Tribunal Constitucional aceitou a candidatura de 16 partidos à eleição de 25 de Maio. Isto não deixa de ser curioso. Haverá 16 opiniões diferentes sobre a política que o país deve seguir na “Europa”? Ou, mesmo admitindo que no fundo se trata de aprovar ou desaprovar o governo, haverá 16 opiniões diferentes entre o sim e o não, incompatíveis entre si e reconhecíveis pelo eleitor comum? É o nosso problema tão singular e tão complexo que mereça 16 interpretações diferentes? E, ponto essencial, existem por aí 160 teóricos (dez, no mínimo, por partido) capazes de perceber o que se passa e descobrir de uma vez as receitas infalíveis da nossa salvação? Ou este formigueiro foi provocado por uma fuga geral às facções que ocuparam o poder nos últimos anos?
A esquerda ainda se compreende. O ódio fraterno em que sempre viveu de igrejinha para igrejinha e o seu impulso atávico para descobrir heréticos e os queimar na praça pública não diminuiu e nunca diminuirá. Até no PS andam dezenas de pequenos Estalines pelos cantos, imaginando as sevícias que irão fazer aos seus queridos camaradas, quando chegar o dia glorioso da sua elevação. Na extrema-esquerda, não faltam os velhos bandos das origens, como o POUS, Partido Operário de Unidade Socialista, da inefável e sempre memorável Carmelinda Pereira; nem os “dissidentes” do Bloco, já de si um agregado de dissidências, que se resolveram tornar independentes, como o MAS e o Livre. Nessa descoroçoante trapalhada, o melhor seria talvez fundar um partido para cada militante, para evitar querelas e lutas pelo poder.
À direita, as coisas são mais complicadas. Muitas vezes não se consegue perceber, ou imaginar, o que significam as letras das siglas: PND, PAN, PPV, PDA e por aí fora. Muito menos distinguir os objectivos dessas simpáticas agremiações. Presumo que só os íntimos sabem ao certo se querem defender o mar, o planeta, a vida, Portugal ou a Europa ou se querem simplesmente ir preopinar para Bruxelas, sem se preocupar com os sarilhos domésticos. De qualquer maneira, custa a ver as razões por que um dia se lhes meteu na cabeça esmagar (cada um segundo a sua vocação) a iniquidade do homem e pôr na ordem a sua parte do universo. Uma única pergunta ao Tribunal Constitucional: verificaram os srs. conselheiros se estes partidos ainda têm os 5000 inscritos, necessários à sua legalização? Ou essa formalidade, uma vez cumprida, é dispensada para sempre?

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