domingo, 27 de setembro de 2020

O REI VAI NU

 27/09/2020

Ética e integridade na vida pública – estará o Rei nu?

Qualquer estratégia ou medida que seja adoptada dependerá sempre de dois elementos fundamentais. Vontade e força política para a mudança e contexto social e cultural propício.

No conto “o Rei vai nu”, Hans Christian Anderson socorre-se da inocência natural de uma criança para nos dizer que por vezes vivemos em negação. Que não vemos a realidade que está bem patente diante dos nossos olhos. Porque não conseguimos. Porque não queremos. Ou muito simplesmente porque nos “convencem” a vê-la de uma determinada forma.

Nesse conto, um vaidoso Rei deixa-se convencer por alfaiates impostores a usar uma roupagem única, feita de alegados materiais nobres e com cores exuberantes, cuja visibilidade estaria apenas ao alcance dos olhos dos mais capazes e dos mais inteligentes. E foi assim que, quando desfilava com tal vestimenta perante a multidão que aplaudia, rejubilava e comentava o esplendor de “sua majestade” e da sua maravilhosa roupagem, porque ninguém verdadeiramente queria dar parte de fraco, repentinamente uma criança exclamou – “Olha, olha! O Rei vai nu!”

Socorro-me desta estória para ilustrar a questão que hoje pretendo focar. A ética e a integridade na vida pública, sobretudo os (péssimos!) exemplos que vamos conhecendo ao nível das práticas das nossas elites e lideranças.

Efectivamente, como tenho referido noutras ocasiões, os últimos anos têm-se revelado férteis em suspeições, acusações e condenações por fraude e corrupção, envolvendo os mais elevados representantes de todas as esferas da nossa vida colectiva.

Desde o universo da política, onde pontificam ex governantes, passando pela vertente económica, com os exemplos de presidentes de bancos e de gestores de grandes empresas públicas e privadas, pelo sector cultural, onde se destacam os presidentes dos maiores clubes de futebol, ou pelo sector social, representado por exemplo por presidentes e gestores de entidades particulares de solidariedade social, ou ainda por áreas referenciais associadas aos pilares fundamentais da organização, funcionamento e estabilidade do Estado, como sejam a justiça, os militares e as policias, em todas conhecemos exemplos comprovados de práticas de fraude e corrupção, como atestam as acusações e condenações judiciais que têm sido mediatizadas.

Enfim uma fotografia de grupo nada abonatória, que deixa de fora poucos sectores da vida pública e que mancha e afecta profundamente, de forma absolutamente vergonhosa, a dignidade, a reputação e a respeitabilidade que é (deve ser!) própria das instituições em causa, fragilizando seriamente a sua reputação e credibilidade.

Afinal as instituições que tradicionalmente sempre se assumiram e foram vistas como exemplos fortes e inatacáveis, bastiões referenciais, sobre o que devem ser os padrões de ética e de integridade de um Estado e de uma sociedade, vêem-se beliscadas na sua honorabilidade, ficando fragilizadas aos olhos da opinião pública e do cidadão comum, menorizando ainda, como uma espécie de efeito colateral, todos aqueles que exercem condignamente as suas funções nas mesmas instituições.

Não acredito que em nenhuma das instituições em causa os funcionários e todos aqueles que de algum modo as servem sejam semelhantes nas suas atitudes e nas suas práticas. Creio até que, ao contrário, as instituições são servidas por funcionários que na sua maioria são pessoas decentes e integras. São gente de bem, como se diz. Mas é também certo (sempre foi assim e será!) que em todas as instituições existem pessoas menos bem formadas, que, como ratos gulosos em busca de pedaços de queijo, apenas se preocupam em identificar e explorar todas as oportunidades que lhes permitam retirar dividendos indevidos das suas funções em vez de se focarem, como seria suposto, em exercerem adequadamente, de forma zelosa e íntegra, essas mesmas funções.

É claro que estes perfis de menor integridade também podem estar associados aos dirigentes de topo das estruturas das instituições (governantes, presidentes, directores-gerais, gestores, administradores, etc.), como de resto se está a ver. Mas, deste ponto de vista, o que parece um sinal particularmente perturbador e porventura revelador de um ambiente bafiento, contaminado e pouco são (podre mesmo) é o facto de, nos últimos anos, um conjunto muito alargado de instituições referenciais da sociedade ter sido dirigido superiormente por pessoas com este perfil. Por gente deste “calibre”.

Será uma mera coincidência ou existirá de facto um contexto e uma dinâmica sociocultural mais propícia e facilitadora destas situações?

Estou mais inclinado para a segunda hipótese. Factores muitas vezes referidos, também eles fraudulentos, como os compadrios nas escolhas dos dirigentes de topo para a Administração Pública, nos processos que alguém um dia apelidou de “jobs for the boys”, ou na ausência de verdade e transparência na avaliação dos perfis de mérito, de valor e qualidade dos candidatos, ajudam por certo a encontrar pelo menos parte da resposta aquelas interrogações.

E ao olhar para este cenário do ponto de vista desta fotografia de grupo (uma verdadeira foto de um bando dos malfeitores) não possa deixar de ficar com uma certa apreensão sobre o sentido deste estado de coisas. Como chegámos aqui? Como vamos sair? Algum dia conseguiremos mudar? O que se seguirá?

E, tal como a criança do conto, questiono-me se o Rei, neste caso as instituições e sobretudo os nossos valores públicos – os valores republicanos – não estarão nus? Se não precisaremos todos de “um banho por dentro”?, como desabafou o Ega ao seu inseparável amigo Carlos da Maia, a propósito de um certo desencanto da sociedade burguesa do Portugal de então, que Eça de Queiroz retratou nos “Maias” e que foi pano de fundo de toda a sua magnífica obra.

Será bom e necessário que a Estratégia Nacional de Combate à Corrupção 2020 - 2024, documento agora em discussão pública, permita encontrar soluções e mecanismos concretos que ajudem à inversão destes sinais. Mas qualquer estratégia ou medida que seja adoptada dependerá sempre de dois elementos fundamentais. Vontade e força política para a mudança e contexto social e cultural propício. Se estes factores não existirem, e eles não têm estado presentes nem se criam de um dia para o outro, sobretudo o segundo, dificilmente se farão grandes mudanças neste estado de coisas.

A propósito desta problemática, o Observatório de Economia e Gestão de Fraude publicou recentemente, através da Almedina, a obra Ética e Integridade na Vida Pública, composta por diversos artigos de autores de referência no plano académico e também no plano técnico-profissional sobre as temáticas em causa, no que constitui um contributo importante para alertar consciências e sugerir propostas de trabalho para o reforço da ética e da integridade na vida das nossas instituições e da nossa vida colectiva.

E os resultados do recente estudo sobre o Índice da qualidade das elites 2020 ajudam a perceber um pouco melhor o que valem as nossas elites, na medida em que elas serão sempre também um factor de mudança de enorme importância.

terça-feira, 22 de setembro de 2020

MAHATMA GANDHI DISSE:

 Perguntaram a

Mahatma Gandhi

quais são os fatores

que destroem os seres

humanos.

Ele respondeu:

A Política, sem princípios;

o Prazer, sem compromisso;

a Riqueza, sem trabalho;

a Sabedoria, sem caráter;

os Negócios, sem moral;

a Ciência, sem humanidade;

a Oração, sem caridade.


A vida me ensinou –

que as pessoas são amigáveis , se eu sou amável,

que as pessoas são tristes, se estou triste,

que todos me querem, se eu os quero,

que todos são ruins, se eu os odeio,

que há rostos sorridentes, se eu lhes sorrio,

que há faces amargas, se eu sou amargo,

que o mundo está feliz, se eu estou feliz,

que as pessoas ficam com raiva quando eu estou com raiva,

que as pessoas são gratas, se eu sou grato.

A vida é como um espelho:

se você sorri para o espelho, ele sorri de volta.

A atitude que eu tome perante a vida

é a mesma que a vida vai tomar perante mim.

“Quem quer ser amado, ame”

VAIDADE DAS VAIDADES-M. Fátima Bonifácio

 OPINIÃO

A corrupção em Portugal

Vivemos hoje em dia nas antípodas da reserva auto-imposta de outrora. Hoje não basta ser rico. É preciso exibir sinais de riqueza até mesmo quando esta não é real e não passa de uma aparência.

A quantidade de processos hoje em dia a correr nos tribunais de Lisboa é impressionante. Mais impressionante ainda é a sensação de impunidade com que os prevaricadores necessariamente agiram: como se a Lei não se lhes aplicasse e a Justiça não lhes tocasse. Talvez a colaboração de um sociólogo e de um psicólogo pudesse esclarecer o que está por trás desta atitude tão bizarra que toca as raias da psicopatia, e incompreensível aos olhos de um cidadão normalmente constituído. A enxurrada de arguidos e acusados responsáveis pela perpetração de tantas ilegalidades ou crimes revela que se trata de criaturas simplesmente amorais. De facto, é preciso ter perdido toda e qualquer espécie de sentido moral para enveredar por um tal caminho criminoso. E, sobre isso, é preciso estar absolutamente convicto de que, caso se dê um tropeço, se pode contar com a eficaz protecção de outros peixes graúdos, cuja solidariedade não deixará de se manisfestar.

O que torna o luxo tão irresistivelmente atractivo? O luxo é irresistível porque satisfaz a vransmite um sentimento de superioridade e segurança que, não sendo reais, todavia conforta quem se deixa iludir. A vaidade constitui uma motivação imbatível. Tempos houve, há muito, muito tempo, em que era proibido ostentar riqueza – uma atitude ditada pelo pudor e por uma instintiva sobriedade. Vivemos hoje em dia nas antípodas da reserva auto-imposta de outrora. Hoje não basta ser rico. É preciso exibir sinais de riqueza até mesmo quando esta não é real e não passa de uma aparência. Pouco interessa: o que interessa é ser visto como alguém que nada em dinheiro: grandes carros, grandes casas, férias de luxo em estâncias de esqui ou em praias tropicais, calçado e vestuário das marcas mais caras e por aí fora.

Mas será ilícito ou imoral sonhar e ter ambições? Evidentemente que não, muito pelo contrário. O que moralmente (e legalmente) nos está vedado é servirmo-nos de meios ilícitos para alcançar os nossos objectivos. Mas donde vem este desaforo, esta gula pelo dinheiro e pelo luxo?

Se andarmos para trás na história, veremos que o processo se iniciou durante o marcelismo. Nessa altura, porém, os bafejados pela sorte eram relativamente poucos, devido à geral pobreza do País. Sob este aspecto, o 25 de Abril, no imediato, favoreceu pouca gente. (Mas alguma favoreceu: basta pensar em Macau e, mais tarde, na entourage de Cavaco Silva.) O verdadeiro maná só começou a ser derramado a partir da adesão à UE e do acesso aos fundos comunitários. A partir daí, foi um fartar vilanagem. Aquilo a que hoje assistimos é uma continuação e ampliação de um “sistema” de apropriação directa ou indirecta de dinheiros públicos que, na sua grande maior parte, provêm dos impostos pagos pelos cidadãos. A implantação e constante ampliação deste “sistema” corre em paralelo com a democratização da política e da sociedade. É uma consequência da Democracia.

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

EDUARDO PRADO COELHO DISSE:

 

Eduardo Prado Coelho, antes de falecer (25/08/2007),
teve a lucidez de nos deixar esta reflexão, sobre nós todos.


Precisa-se de matéria prima para construir um País



A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia,
bem como Cavaco, Durão e Guterres.
Agora dizemos que Sócrates não serve.
E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada.

Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão

que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates.

O problema está em nós. Nós como povo.

Nós como matéria prima de um país.

Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda

sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro.

Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude

mais apreciada do que formar uma família
baseada em valores e respeito aos demais.

Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais

poderão ser vendidos como em outros países, isto é,
pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal
E SE TIRA UM SÓ JORNAL,
DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.


Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares
dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa,
como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil

para os trabalhos de escola dos filhos... e para eles mesmos.

Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque
conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo,

onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.

Pertenço a um país:
-Onde a falta de pontualidade é um hábito;
-Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano.
-Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e, depois,

reclamam do governo por não limpar os esgotos.

-Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que

é 'muito chato ter que ler') e não há consciência nem memória
política, histórica nem económica.

-Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis

que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média
e beneficiar alguns.

Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas
podem ser 'compradas', sem se fazer qualquer exame.

-Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços,

ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada
finge que dorme para não lhe dar o lugar.

-Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro

e não para o peão.

-Um país onde fazemos muitas coisas erradas,

mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.
Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates,

melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem
corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.

Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português,

apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim,
o que me ajudou a pagar algumas dívidas.

Não. Não. Não. Já basta.


Como 'matéria prima' de um país, temos muitas coisas boas,
mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa.

Esses defeitos, essa 'CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA' congénita,

essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui
até se converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana,
mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates,
é que é real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós,
  ELEITOS POR NÓS . Nascidos aqui, não noutra parte...

Fico triste.
Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje,

o próximo que o suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria prima
defeituosa que, como povo, somos nós mesmos.

E não poderá fazer nada...

Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor,

mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a
erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.

Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco,

nem serve Sócrates e nem servirá o que vier.

Qual é a alternativa ?

Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei

com a força e por meio do terror ?

Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa 'outra coisa' não comece

a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados,
ou como queiram, seguiremos igualmente condenados,
igualmente estancados... igualmente abusados !

É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa

a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento
como Nação, então tudo muda...


Não esperemos acender uma vela a todos os santos,
a ver se nos mandam um messias.

Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses

nada poderá fazer.

Está muito claro... Somos nós que temos que mudar.

Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos:

Desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e,
francamente, somos tolerantes com o fracasso.

É a indústria da desculpa e da estupidez.

Agora, depois desta mensagem, francamente, decidi procurar o responsável,

não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir)
que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco,

de desentendido.

Sim, decidi procurar o responsável e

ESTOU SEGURO DE QUE O ENCONTRAREI

 

  QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO .

AÍ ESTÁ.

 NÃO PRECISO PROCURÁ-LO NOUTRO LADO.

E você, o que pensa ?... MEDITE !

 
 




   

   

 

 

 

Sem vírus. www.avast.com