sexta-feira, 30 de maio de 2014

AJUDEM MERIAM A SALVAR-SE DA FORCA

Aumenta esperança de que Meriam não seja executada por recusar o islão


Sudanesa foi condenada à morte por apostasia. Foi mãe há três dias e, segundo a lei do país, a contagem para a execução começou.

Meriam e o marido no dia do seu casamento Tópicos

A sudanesa Meriam Yehya Ibrahim Ishag sabe há 15 dias que pode ser executada dentro de dois anos por apostasia (renúncia a uma crença religiosa). O tempo está a contar desde terça-feira, dia em que deu à luz uma menina, numa prisão do Sudão. Meriam está “frustrada” na cela que ocupa desde Janeiro, na companhia do filho de 20 meses, mas mantém firme que não cometeu qualquer crime. O marido Daniel Wani fala agora, pela primeira vez, sobre o caso.
Meriam foi educada pela mãe segundo a religião Ortodoxa e não islâmica, a fé do seu pai, um homem pouco presente durante a sua infância. Casou com um sudanês do sul, também cristão. Depois de ter sido acusada de adultério após a denúncia de uma membro da sua família de que estava casada com um cristão (o casamento com pessoas de outra religião não é reconhecido pela sharia), Meriam foi acusada de renunciar à religião do seu país ao afirmar-se cristã. Um tribunal de Cartum considerou-a culpada de adultério e apostasia, após a mulher ter recusado, mais uma vez, o islão como a sua religião. Condenou-a à morte por enforcamento e a 100 chicotadas pelo adultério.
Detida desde 17 de Janeiro, Meriam entrou na prisão para mulheres de Omdurman, em Cartum, com o filho bebé Martin e grávida. Na terça-feira, Maya nasceu na enfermaria da prisão. Segundo o marido e a Amnistia Internacional, a mulher de 27 anos esteve acorrentada pelos tornozelos durante o parto, tal como tem estado desde a sua detenção há quatro meses.
Condenada à morte, Meriam tem direito a permanecer junto da filha durante dois anos após o nascimento. No final desse período deverá ser cumprida a sentença. Quanto às 100 chicotadas a que também for condenada, a justiça sudanesa prevê que sejam infligidas assim que a mulher recuperar do parto.
Daniel Wani viu a mulher e a filha no dia a seguir ao nascimento. Desde que foi anunciada a sentença, as visitas de Wani começaram a diminuir por imposição das autoridades. Antes disso visitava a mulher e o filho todos os dias. Nas primeiras declarações a jornalistas sobre o caso, Wani mostrou-se esperançado de que Meriam não venha a ser executada, mas não escondeu à BBC a frustração pela prisão e condenação da mulher e afirmou que todos têm o direito de escolher a sua religião. “Ela cresceu com a mãe, foi à igreja e isso não quer dizer que ela se converteu do islão para o cristianismo.”
“Existe uma pressão sobre ela de líder religiosos muçulmanos para que regresse à sua fé”, contou à CNN. “Ela diz ‘Como posso regressar se nunca fui muçulmana? Sim, o meu pai era muçulmano, mas fui criada pela minha mãe”, diz Wani, lembrando as palavras da mulher.
Meriam está intransigente e conta com o apoio do marido, que acredita que a sentença vai ser revogada. “Espero isso, dada a forma como as pessoas se têm unido pelo mundo, o que quero agradecer.” “Todos os grupos de defesa dos direitos humanos, televisões… Parece que tiveram efeito. Talvez resultem na revogação do julgamento”, acrescenta o sudanês. “Vou apoiá-la até ao fim. O quer que ela queira, ficarei ao lado dela”, assegurou.
Wani diz que a mulher “está de mau humor” e “frustrada” com a diminuição das visitas permitidas pela prisão. A situação teve uma forte influência no filho Martin — Wani não pode pedir a custódia da criança por não ser muçulmano. Como tal, o menor tem que viver com a mãe na prisão. “A sua atitude mudou muito. Era um rapaz feliz. Quando o fui visitar ficou apenas a olhar para mim, não sorriu”, relembra à BBC. Tudo se torna mais complicado quando o filho lhe pede “para ir para casa”.
Desde a entrada em vigor do Código Penal sudanês de 1991, nenhuma pessoa foi executada por apostasia, segundo dados da Amnistia Internacional. O caso mais recente de uma pena de morte por apostasia no Sudão ocorreu em 1985, quando um homem criticou a entrada em vigor da sharia como lei no país.
Apesar de terem ocorrido várias condenações, na maioria dos casos as sentenças foram revogadas quando os acusados renunciaram a religiões alternativas e optaram pelo islão. As execuções são, no entanto, uma prática no Sudão. No ano passado, a Amnistia Internacional indica que foram executadas 21 pessoas. Números oficiais revelam que 29 pessoas foram condenadas à morte, mas as sentenças com a pena máxima deverão ultrapassar as 100, diz a organização.
Uma análise publicada esta semana pelo Pew Research Center indica que, em 2012, as leis contra a apostasia existiam em 21 países, principalmente do Médio Oriente e do Norte de África, onde 12 em 20 nações criminalizam a negação a uma fé. A penalização da apostasia existe ainda em regiões da Ásia-Pacífico, com cinco países a adoptar legislação nesse sentido, e na África subsariana, com quatro Estados a aplicar leis que proíbem a apostasia.

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