quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

O HOSPITAL MILITAR PRINCIPAL

 O Ex-Hospital Militar Principal (Estrela)

Cedido por 14 milhões de euros à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa em 2015, para ali construir a maior Unidade de Cuidados Continuados do País. Continua fechado.

M. Frazão

 

 

 

Nesta fotografia reportada a 2016, vêem-se três dos responsáveis nesta altura , à entrada do Hospital (ministros e provedor)

Volvidos mais de cinco anos, continua o mesmo fechado.

Apenas há dias uma candidata a PR (Ana Gomes) abordou o seu desaproveitamento perante a actual pandemia.

Mas a questão que importa que seja mesmo esclarecida é a razão pela qual a comunicação social, não questiona a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (que de Santa não tem nada )do que está realmente à espera, para abrir este complexo hospitalar, desde sempre, uma referência no País?

 

Subscreve a questão:

João Bargão dos Santos

Major-General Médico

Ex-Director

16/01/2021

 

 

 

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

MARCELINO DA MATA

 OPINIÃO

Marcelino da Mata e a memória selectivade Portugal

CONTEÚDO EXCLUSIVO

A democracia portuguesa criou uma história oficial e entrincheirou-se nela. Marcelino da Mata não cabia lá dentro. Morreu semi-desconhecido, até ao dia em que alguém tenha a coragem de sair da trincheira para contar a sua história, como ele merecia e nós merecemos.

João Miguel Tavares

13 de Fevereiro de 2021, 0:00

Marcelino da Mata morreu na quinta-feira, aos 80 anos de idade, de covid-19. Os telejornais ignoraram a notícia. A maior parte dos portugueses não faz a menor ideia de quem foi Marcelino da Mata. Há uma forma particular de pobreza que afecta este país – a pobreza da nossa memória histórica, demasiado selectiva e formatada, que conduz à ignorância generalizada sempre que falamos de factos ou de pessoas que não encaixam na historiografia oficial do regime. Marcelino da Mata foi colocado do lado de fora da história da democracia portuguesa, e por isso morreu sem que o seu nome e a sua vida extraordinária fossem integrados na memória colectiva.

Público · Marcelino da Mata e a memória selectiva de Portugal

Há dois anos escrevi sobre Marcelino da Mata, o que deu origem a uma resposta de Vasco Lourenço e a uma réplica da minha parte. Na altura recebi dezenas de mails de leitores, a maior parte deles oriundos de antigos combatentes, alguns dos quais tinham conhecido Marcelino da Mata na Guiné. Havia um pouco de tudo nessa correspondência, desde gente que o considerava um herói português e relembrava os seus feitos, até pessoas que entendiam, à semelhança de Vasco Lourenço, que se tratava de um criminoso de guerra. Uns queriam enaltecê-lo, enquanto militar mais condecorado do exército português; outros acolhiam a argumentação de Lourenço, de que há “actos que deveriam enterrar-se de vez”, encontrando virtudes no esquecimento selectivoda guerra colonial.

Quer Marcelino da Mata tenha sido um herói, quer tenha sido um criminoso de guerra, quer tenha sido as duas coisas, o que importa é que a sua vida e as suas acções são uma grande história

Este desejo de esquecer é compreensível do ponto de vista pessoal, mas é obviamente inaceitável do ponto de vista colectivo. Para a minha geração, nascida na década de 70, e para as gerações posteriores, a guerra colonial é matéria dos livros de História, e quer Marcelino da Mata tenha sido um herói, quer tenha sido um criminoso de guerra, quer tenha sido (parece-me o mais provável) as duas coisas, o que importa é que a sua vida e as suas acções, na dúzia de anos em que andou a combater na Guiné, são uma grande história, que rompe com as interpretações primárias dos conflitos coloniais, e que singulariza essa complexidade. As grandes histórias existem para serem contadas e integradas no imaginário popular.

Como se explica, então, que Marcelino da Mata seja uma figura quase desconhecida, apenas resgatado na hora da morte por uma breve nota da Presidência e pelo pedido do CDS para que se decretasse luto nacional e funeral de Estado? Porque o seu perfil é triplamente incómodo para aquilo que se impôs como a narrativa oficial do Estado Novo, da guerra colonial, da descolonização ou das conquistas de Abril. Marcelino da Mata foi: 1) um negro que lutou ao lado dos portugueses na guerra colonial; 2) um herói do Estado Novo; 3) um militar barbaramente espancado por militares de extrema-esquerda ligados ao MRPP, em Lisboa, já em plena democracia. É um triplo desconforto, triplamente silenciado.

Aquilo que uma sociedade adulta deveria perceber – lição essencial em tempos maniqueístas – é que é perfeitamente possível alguém ser herói e ser vilão; um regime ser racista e oferecer a um negro as mais altas condecorações; um guineense preferir Portugal ao PAIGC; uma revolução libertadora torturar tão barbaramente quanto uma ditadura; e por aí fora. A democracia portuguesa criou uma história oficial e entrincheirou-se nela. Marcelino da Mata não cabia lá dentro. Morreu semi-desconhecido, até ao dia em que alguém tenha a coragem de sair da trincheira para contar a sua história, como ele merecia e nós merecemos.

 

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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

ESQUECIMNTO INTENCIONAL, SERÁ?

  

Porque é que os que andaram nas guerras do Ultramar são hoje pasto de insultos por parte de gente, ou esquerdista ou desinformada por décadas de “educação” e de “moral republicana”?

Porque é que III República, ao contrário das duas anteriores, se dedica a vilipendiar quem se bateu, no respeito por uma noção de Pátria com seis séculos de História?

Porque é que a sociedade aceita e glorifica os chamados historiadores que se dedicam a “rever” a História sob o confesso parti pris da a denegrir e falsificar?

Porque é que há quem aceite, e não puna, pelo menos com censura política oficial, um díscolo político do calibre do ultra-racista Mamadu  (a viver e bem à nossa conta), infrene militante do ódio a Portugal e da trafulhice intelectual?

Porque é que um símbolo do amor a Portugal do calibre de um Marcelino da Mata, ao morrer, não é objecto de uma palavra do Chefe do Estado português? Ou do chefe do governo? Ou dos altos comandos militares?

Porque é que as cinzas de Marcelino da Mata não são objecto de homenagem oficial?

Porque é que a Honra de quem a merece é obnubilada pela de “heróis” (mesmo que alguma honra mereçam) de segunda - se com ele comparados - fadistas, futebolistas e tantos outros que o Presidente escolhe para celebrar os portugueses?

Porque é que um preto que escolheu ser português e se bateu por Portugal do seu tempo, não merece, sequer, um elogio oficial?

Será que se trata, agora sim, de racismo?

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

A CAUSA #PROGRESSIVISTA"

 

A causa “progressivista”

A Assembleia da República aprovou a lei da eutanásia enquanto o número de mortes duplicava. O que se espera é que o Presidente vete a lei e a devolva ao parlamento e no limite a envie ao TC.

Aeutanásia não é um tema económico, apesar de ter também implicações a este nível. Seria fácil associá-la à oportunidade que se está a perder em Portugal para desenvolver serviços de saúde especializados, nos quais os cuidados paliativos estariam certamente incluídos, e prestá-los a uma grande diversidade de populações de vários pontos do Mundo.

Para os detractores e para os complexados é um horror falar em negócios relacionados com a saúde, apesar de não se preocuparem com as clínicas do aborto. A saúde não é um negócio, dizem com ar ultrajado. Nada mais errado, a saúde é um negócio como outro qualquer. Mas não é sobre esse assunto que versa este texto.

O que interessa aqui é que a Assembleia da República aprovou a lei da eutanásia enquanto o número de mortes duplicava em Portugal, em que para além das cerca de 300 pessoas que morrem por razões habituais houve diariamente mais 300 pessoas a deixar-nos pelo Covid-19. O que se espera é que o Presidente vete a lei e a devolva ao parlamento e que, se a receber de volta, a envie para o Tribunal Constitucional.

A duplicação da taxa de mortalidade expõe duas grandes fragilidades.

  • A primeira é a da vida humana e da sua condição natural. A pandemia mostra como a nossa existência física é passageira e como as decisões sobre vida e morte estão muitas vezes fora do nosso controlo, demonstrando a limitada significância do ser humano.
  • A segunda é a fragilidade das tentativas “progressivistas” de querer impor o Homem como o ser todo-poderoso, a quem nada está vedado e que tudo domina a seu bel-prazer. Esta é a visão de controlo da evolução humana com base em tecnicismos e cientificismos que une radicais extremistas como Nietzche e Trotsky no idolatrar do Super-Homem que resultaria do apuramento da raça humana.

Repare-se bem como os ideais extremistas se unem em nome do “progressivismo”. E o que é o progressivismo”? É a ilusão da afirmação da mudança do intelecto e da fisiologia do Homem, com base na ciência e no racionalismo dogmático, que conduziria ao seu poder absoluto onde os valores morais supostamente presentes estão, na realidade, ausentes. No “progressivismo”, a negação da natureza é apresentada como um progresso e uma libertação para o ser humano, ele próprio parte da natureza, como se alguma coisa mais irracional do que esta pudesse haver.

Esta crença cega no poderio do Homem despreza todos os princípios seguidos pelos homens que criaram as sociedades livres e democráticas em que vivemos. É por isso também um caminho para o fim da liberdade e da democracia como a conhecemos hoje, ambição que é comum a Nietzche e Trotsky, e aos seus seguidores.

A abordagem legalista

As modas “progressivistas” estão cada vez mais a estender-se ao domínio legal e a discussão da Eutanásia em Portugal está em risco de se tornar uma questão meramente jurídica, se chegar ao Tribunal Constitucional.

A abordagem jurídica à eutanásia deveria ser simples dado o artigo 24º da Constituição, que foi aprovado para defender a inviolabilidade da vida humana. A possibilidade de interpretação da intenção dos legisladores não vai servir de argumento, uma vez que alguns ainda estão vivos e já referiam publicamente que a intenção era impedir que a vida fosse tirada de qualquer maneira.

Mas já no aborto também a vida era inviolável e a sua liberalização foi tornada constitucional. Por isso é muito perigoso quando questões morais complexas são limitadas na sua abordagem pela perspectiva de juristas, por muito competentes que eles sejam.

Na questão do aborto a inviolabilidade da vida humana foi escondida com o artifício de negar a existência humana ao nascituro. Há quem veja nisto uma lógica libertadora, em que é dada total liberdade à mãe que já não vai ser.

No entanto, a liberalização do aborto não conduziu a qualquer aumento da liberdade. Retirou liberdade, não a aumentou. O que dela resultou foi que a suposta mãe ganhou um direito absoluto, os direitos do pai foram eliminados e toda a liberdade de decisão lhe foi tirada, e o nascituro não só perdeu qualquer veleidade de ter liberdade como ainda lhe viu ser negada a existência humana.

Esta situação de negação da vida não se pode repetir na eutanásia, pois é por demais evidente que a existência humana está presente e que a morte provocada por terceiros, com o apoio entusiasta dos “progressivistas”, viola a vida.

Por isso, a tentação jurídica será ir por outro caminho. O mais óbvio é voltar outra vez ao mesmo argumento ilusório da libertação do indivíduo. Mas, tal como no aborto, esta liberalização do “suicídio” é apenas uma liberdade sem responsabilidade. O suicídio já hoje é livre sem precisar da aprovação de qualquer lei da eutanásia. Mas esta liberdade só é real quando a tentativa de suicídio é efectivamente concretizada. Nesta situação, estamos perante uma morte irresponsável, uma vez que as consequências daí resultantes para os outros são totalmente desprezadas pelo morto. Só os que tentam e não conseguem executar o suicídio é que têm de assumir a responsabilidade pela sua decisão perante terceiros. Por isso a eutanásia apenas traz uma liberdade sem responsabilidade.

Ainda à semelhança do que se passa no aborto, também na eutanásia a capacidade de decisão da pessoa que vai ser objecto deste acto, o eutanasiado, tenderá a ser “progressivamente” ignorada. Há quem afirme orgulhosamente que já se inscreveu para ser eutanasiado. Mas, e se estando às “portas da morte” a pessoa se arrepende do que fez? Nessa altura será tarde porque a liberdade de cancelar a inscrição já desapareceu.

A liberdade é também ilusória se pensarmos que estamos numa situação similar à da teoria da agência, que os economistas usam para explicar a relação entre um principal, neste caso o eutanasiado, e um agente, o que vai provocar a sua morte. Os defensores da eutanásia assumem, numa ingénua simplicidade, que há sempre um alinhamento dos objectivos entre o eutanasiado, que quer morrer, e o agente que lhe provoca a morte para retirar a dor, por exemplo. Mas numa situação extrema, não só o eutanasiado não tem autonomia mental nem física para manifestar a sua vontade, como a motivação do agente lhe é desconhecida, não havendo por isso uma partilha de informação entre os dois.

Este problema de informação assimétrica e de não alinhamento de objectivos já está presente em países como Holanda e Bélgica, onde a decisão já foi passada para terceiros, com os pais de crianças a pedir que as matem ou familiares de dementes a aprovar a sua morte sem saber se estes o querem. Estamos, na prática, perante a legalização do assassínio promovida pelo “progressivismo”.

Rampas deslizantes

Esta “rampa deslizante”, que os defensores da Eutanásia tentam esconder a todo o custo, é o fim da valorização da liberdade individual responsável como hoje a conhecemos. Não deixa de ser caricato que sejam os que se dizem liberais a apoiar uma rampa deslizante para o fim da liberdade.

Esta “rampa deslizante” é a entrada numa esfera muito perigosa e num processo de decadência de valores e de virtudes morais consensualmente aceites, levando a que a liberdade individual, que assenta nesses mesmos valores e virtudes, seja totalmente ignorada. Esta revolução é uma das características mais salientes e perniciosas do “progressivismo”.

Por aqui podemos ver que a questão moral sobre a eutanásia vai muito mais longe do que a morte de um indivíduo, como os “progressivistas” hipocritamente a colocam. Há várias facções na defesa da eutanásia. Há quem a defenda por ilusão e por achar que é moderno, expondo um complexo de “progressivismo”; há quem a defenda por colocar o individualismo como algo supremo e acima de tudo, negando todas os valores e virtudes morais herdados dos clássicos; e há quem a queira apenas por cegueira ideológica, em que pretende destruir toda a herança judaico-cristã que construiu a nossa civilização.

A hipocrisia da defesa da eutanásia revela-se com o discurso que nega o assassínio, como se passou no aborto. São os mesmos que afirmaram considerar o aborto como um mal, e que juraram que não haveria a sua liberalização, os que festejaram a mesma liberalização do aborto que foi implementada em Portugal. Que confiança se pode ter nestas pessoas quando afirmam que os outros são intolerantes por defenderem a vida e recusarem a eutanásia?

Mas estes meios e estes discursos apenas escondem o que de mais grave e preocupante nos é prometido pelas causas “progressivistas”. Não é apenas o desaparecimento de valores e virtudes morais em que assenta a ideia de liberdade, o que só por si já é extremamente preocupante. É também a ideia da criação de um Super-Homem que será fisiológica e socialmente superior e que não aceitará quaisquer fragilidades humanas, não olhando para isso a meios para as eliminar de modo a permitir o apuramento da raça humana.

A promessa do poder do Homem com base na ciência não tem nada de novo, traduz uma visão positivista da sociedade. O que há de novo é a ilusão de que o desenvolvimento de um novo ser humano nos vai permitir tudo prever, tudo controlar e tudo alcançar, abrindo a porta a um caminho que nos conduzirá ao fim da liberdade e da democracia.

Não são apenas as câmaras nas ruas justificadas pela segurança que o “big brother” chinês já implementou. É muito mais do que isso. É uma crença dogmática numa nova imagem do Homem, uma nova concepção do que é ser humano, que começa pelo discurso dos múltiplos “géneros”, que já se generalizou, e continua na utopia transhumanista que defende a transformação artificial do Homem num ser biológico e socialmente superior.

É neste âmbito que deve ser entendida a rampa deslizante. Um dos sinais mais claros é que foi em nome deste “progressivismo”, e sob a capa dos direitos individuais, que se legalizou a eliminação de crianças e de dementes. A partir daqui é apenas um passo para que a eugenia, o apuramento da raça humana, volte novamente a ser aceite.

Não é difícil prever que apesar da tentativa de negação actual, esta rejeição da fragilidade do ser humano na procura de um Super-Homem todo-poderoso se virá a transformar na possibilidade generalizada de serem outros a decidir a morte de um individuo, como já acontece na Holanda. Seria o recuperar do exemplo dos nazis e, já depois da guerra, das experiências patrocinadas pelos socialistas suecos e, mais recentemente, pelos comunistas chineses quando um cientista manipulou o código genético de dois bébés.

O que é ainda mais espantoso é que é em nome da dignidade humana, como afirmam alguns dos defensores da eutanásia, que é apresentada esta evolução contranatura que coloca em causa a liberdade individual e a democracia representativa que dela depende.

É uma “dignidade” em que os direitos naturais consagrados na Declaração Universal dos Direitos do Homem inicialmente se transformaram em direitos antinaturais em nome do individualismo como o aborto, a inseminação artificial em casais que naturalmente não podem ter filhos ou a inseminação post-mortem, e que agora sob a ilusão do “progressivismo” se caminha para a manipulação genética, para a escolha do sexo e para a morte por encomenda.

É a própria ideia de dignidade humana, a base da nossa civilização, que está ser colocada em causa por gente irresponsável como os que votaram no parlamento pela legalização do “suicídio” provocado.

É para esta utopia do “admirável” mundo novo que nos levam as causas “progressivistas” e é isso que alguns tribunais e alguns juristas tentam estabelecer na lei sem admitirem qualquer discussão na sociedade. É nisto que devemos pensar relativamente à eutanásia.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

UM HOMEM DE DEUS

 Homenagem merecida a um dos raríssimos empresários (diria mesmo único - não ouvi falar de outro), com noção e prática diária do sentido de responsabilidade social de uma Empresa...,




 

Foi a 28 de março de 1931, na vila raiana alentejana de Campo Maior, que uma família humilde celebrava o nascimento de mais um filho.

À data, certamente poucos acreditariam que este viesse a ser uma pessoa que viesse a marcar a face de Campo Maior e do Alentejo do modo que veio fazer.

Rui Azinhais Nabeiro, uma força do Alentejo e um nome incontornável na sua História, celebra hoje o seu 89ª aniversário.

O seu nome e marca que criou, a Delta, são nomes incontornáveis do Alentejo e do país, e muito se deveu ao sacrifício e esforço deste exemplo português de “self-made man” que nunca esqueceu as raízes e que cresceu e fez crescer sempre fundado num humanismo exemplar. E que, em 1995, levou a que fosse pelo Presidente da República de então, Mário Soares, com o grau de Comendador da Ordem do Mérito Empresarial e que, em 2006, receberia de Jorge Sampaio a Grã Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.

Referiu um dia Rui Nabeiro que "Deus deu-me o suficiente para poder partilhar. Mas o que ele me deu não me pertence, tenho de continuar a trabalhar para dar aos outros. A minha responsabilidade social é enorme". E para quem tudo começou cedo, na escola: “A escola deu-me uma certa vivacidade e um certo querer pela vida.” – disse à revista das Selecções do “Readers Digest”, em 2002.

Como dizia o poeta espanhol António Machado, “el camino se hace caminhando” e assim Rui Nabeiro e o jovem Rui foi trabalhando onde havia trabalho, e ter trabalho era já um privilégio que poucos tinham neste recanto do país. Ainda assim, vendeu peixe, foi pregoeiro entre outras coisas, e na sua mente tinha um só objectivo: ajudar em casa com o que podia.

Aos treze anos, após deixar de trabalhar na mercearia da sua mãe, juntou-se ao pai e ao tio no negócio do café, no entanto, revelou que “Nasci, cresci e vivo para o comércio (…) Hoje tenho a certeza que foi a mercearia da minha mãe que ditou a minha vocação de empresário”.

Tinha 19 anos quando o seu pai faleceu e o levou assumir a direcção da empresa Torrefação Camelo, Lda., à época com instalada em 50 metros quadrados.

Com “passos curtos, mas certos” – apanágio da gestão empresarial de Rui Nabeiro - a empresa sofreu alterações e evoluções na empresa, na década de 70 a nascia a Delta, não sem a existência de dificuldades: “Os primeiros tempos foram difíceis” (…) “A falta de meios próprios para assegurar a cobertura do mercado exigiu muito trabalho, método, disciplina e grandes doses de sentido de oportunidade. Houve momentos decisivos. Momentos em que foi necessário manter a frieza e o sentido prático para garantir o crescimento da Delta”.

Certo é que a marca se consolidou. Onde há um português a marca e o desejo de um café Delta acaba por estar também. A Delta é uma referência em Portugal e Espanha e está presente em mais 35 países. Aliás, e um pouco por onde quer que haja portugueses. 

Mesmo em tempo de crise, a Delta continuou a crescer com base na transparência, na gestão de proximidade, na equipa de colaboradores motivada e na rede internacional que se constrói com confiança e que os tornou líderes de mercado na venda de café.

Nas empresas do grupo Delta, trabalham milhares de pessoas, cerca de metade das quais em Campo Maior, ainda hoje a sede do grupo. Rui Nabeiro já explicou parte deste sucesso: “Eu não trabalho para mim, nem quem trabalha para mim trabalha para eles próprios, nós trabalhamos uns para os outros.” O grupo empresarial já vai muito além dos cafés, marcando a diferença também na agricultura, distribuição alimentar e bebidas, ramo imobiliário ou a hotelaria. É já bastante conhecida a marca de vinhos “Adega Mayor”, bem como o seu enoturismo ou o Centro de Ciência do Café.

Há uns anos, em declarações à revista Exame, disse: "Deus deu-me o suficiente para poder partilhar. Mas o que ele me deu não me pertence, tenho de continuar a trabalhar para dar aos outros. A minha responsabilidade social é enorme".

O comendador já revelou por várias vezes outro “segredo” do negócio: “fazer de cada cliente um amigo e de cada amigo um cliente”. Nos negócios como na vida, Rui Nabeiro defende que as pessoas devem saber acarinhar, ser humildes e cultivar a simplicidade.

Esta sua vertente humana é também imagem do Grupo Delta; as suas empresas fazem questão de apoiar associações, colectividades, projectos e outras manifestações sociais que a eles se dirijam em busca de patrocínios e auxílios quer monetários, quer materiais.

 Raras empresas se relacionam deste modo com o meio social envolvente. São pequenos gestos e a tentativa de ajudar a todos que fazem da marca Delta e do nome Nabeiro factores distintivos e por quem o povo alentejano nutre um profundo respeito e carinho.

Rui Nabeiro – pela sua personalidade activista e sentido do serviço público - passou também pela política, ainda em pleno Estado Novo, em 1972, assumiu a presidência da Câmara Municipal de Campo Maior, fazendo-o novamente em 1977 – e até 1986 - pela via eleitoral.

Bem no centro de Campo Maior, em 2008, a população campomaiorense e alentejana homenageou-o com uma estátua em bronze.

Rui Nabeiro disse então que essa estátua, erguida pelo povo, era mais significativa que a comenda que lhe havia sido entregue por Mário Soares em 1995.

Na Universidade de Évora foi criada a Cátedra Rui Nabeiro para apoiar a pesquisa, ensino e divulgação na área da Biodiversidade. Esta foi a primeira cátedra em Portugal financiada por privados.

Perante a realidade que construiu e a as homenagens que vem sendo alvo, Rui Nabeiro mantém a simplicidade e humildade, afinal, “Uma pessoa não pode desviar-se de uma conduta equilibrada.” Mantém também a vontade de continuar a fazer "O homem sempre que sonha nunca atinge aquilo que realmente sonhou.  Ainda tenho sonhos, sonhos de criar mais. Não fiz tudo o que sonhei."

Para ajudar a este dia de celebração, este ano um pouco diferente em virtude da pandemia Covid-19, em Campo Maior, também o Centro de Ciência do Café (CCC) celebra 6 anos e o Centro Educativo Alice Nabeiro o seu 13º aniversário.

 

Em nome do Alentejo: obrigado e muitos Parabéns, Comendador Nabeiro!


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UMA AGITAÇÃO CHAMADA VENTURA

 

David Dinis

David Dinis

Diretor-adjunto

Uma agitação chamada Ventura - e um confinamento com uma lição

11 FEVEREIRO 2021 

  Viva!


Que mês este, que passámos juntos. Janeiro foi tempo de eleições presidenciais, aquelas onde Marcelo venceu a abstenção e foi reeleito Presidente para mais cinco anos, um êxito que agora lhe entrega o maior desafio da sua vida. Também aquelas onde a esquerda teve uma derrota, e a direita ficou com um problemacomo bem escreveu Daniel Oliveira, numa das crónicas que assinou aqui no Expresso.


Sim, o ‘problema’ à direita é a subida exponencial de André Ventura, líder do Chega, que aqui escalpelizámos. Por exemplo, explicando de onde vem o voto em Ventura? (Resposta: De zonas despovoadas, com mais idosos, estrangeiros e alunos com maior dificuldade em acabar o ensino básico).

Mas também procurando resposta à pergunta que se segue: Porque é que o Chega une Cascais e Chelas? Ou ainda esta conta simples: Se Ventura multiplica por sete, quantos deputados poderia valer o meio milhão de votos nas presidenciais?


O crescimento (muitas vezes previsto) do líder do Chega levou-nos também à estrada, até ao Alentejo, onde vimos e contámos o que se dizia: “Nas próximas eleições vai ser a grande surpresa. E depois não há nada a fazer, temos de aguentar”. Assim como levou o diretor do jornal a deixar um alerta: É bom que ouçam aquelas 500 mil cruzesQuanto a mim, pôs-me a ler os estudos científicos sobre a ascensão da direita radical lá fora, concluindo aí que a direita já chamou os populistas ao Governo (e perdeu com isso).


Esta semana, na edição semanal, olhámos para outro ângulo da nova relação à direita. A investigação Expresso revelou aí que a ‘geringonça’ de direita nos Açores já tem nomeações recorde e família à mistura.

Mas janeiro foi mês de confinar, outra vez.
 Foi aos poucos, em duas semanas que terminaram com a jogada arriscada de Costa: 14 recuos e correcções às regras e uma aposta na responsabilização individual

Mas acabou por ser um confinamento total, depois de termos contado que os Hospitais pediram ajuda urgente: já havia doentes transferidos de Lisboa para Covilhã e AlgarveHoje, sabemos como foi a seguir: problemas de oxigénio no Amadora-Sintra, filas de ambulâncias no Santa Maria, urgências e cuidados intensivosa sem margem de manobra.


As críticas atingiram o pico esta semana, pelo que falámos com o Governo para saber como olha para o que aí vem ainda. A resposta trouxe uma interrogação: Agora, “nervos de aço”. Depois, remodelar?


Mas entrámos em fevereiro ainda em estado e alerta. Chegámos, aliás, com Um país em carne viva, onde nos hospitais se pergunta “como se escolhe quem vive e quem morre?”. A reportagem que Christiana Martins escreveu na Revista desta semana começa por responder assim: Morremos todos.


Por tudo isto, escrevemos-lhe também este mês que passou sobre o medo. Melhor do que isso, sobre como vencer o medoAssim é melhor - o nosso papel é, também, construir.

Procurando ser-lhe útil, nestas semanas fizemos uma radiografia ao impacto da pandemia nos vários sectores da economia. Mas não sem lhe deixar um guia sobre os apoios que pode pedir: seja para o novo apoio social, seja os disponíveis para proteger as empresas da pandemia em 2021


Agora é tempo de respirar fundo: é que aliviar antes do fim do mês é “muito arriscado”. Depois virão melhores dias.


A propósito, este foi o mês do arranque do processo de vacinação. Regra geral, com um problema de fornecimento (a nível europeu), mas também de… enfim. Sabe como foi, pelo que lhe deixo a crónica episódica do plano paralelo de vacinação que, se juntarmos aos casos de violação do confinamento na clandestinidadee contrastarmos isso com o heroísmo dos profissionais de saúde e dos que resistem em casa a tudo, nos dá uma enorme lição sobre este mês que acabou: em tempos extremos, o ser humano é mesmo capaz do melhor e do pior.

Nós, por aqui no Expresso, tentamos a cada dia superar esse desafio interior: dar o nosso melhor, por si, pelo rigor, pela informação, pela verdade.

É por isso, também, que gostamos de a/o ter connosco: por saber que, estando ao nosso lado, estamos na melhor companhia.

Deixo-a, deixo-o hoje com um obrigado, e com esta última recomendação de leitura, do texto que mais assinantes trouxe ao Expresso no último mês: chama-se “Mil Novecentos e Oitenta e Quatro”: totalitarismo, vigilância e linguagem. E é o ensaio de Gonçalo M. Tavares sobre a atualidade do livro de George Orwell, no momento em que toda a obra do autor entra no domínio público. Na hora certa, acrescento eu.

                                                                               

David Dinis

ddinis@expresso.impresa.pt