domingo, 20 de dezembro de 2015

TRAPALHADAS

Vem numa linha directa de trapalhadas sucessivas. O Banif, cujas acções, agora suspensas, valiam, durante uns dias, 0,0006 cêntimos, parece ser apenas mais um tropeção bancário a inscrever-se numa lista bem recheada e que inclui pelo menos o BPN, o BPP, o BES, o Novo Banco e o BES Mau. A estes, talvez fosse justo acrescentar o BCP, nos seus piores dias, aqueles em que o governo intervinha por intermédio da CGD, com a ajuda de alguns dirigentes políticos e de bancários improvisados ou capitalistas de passagem. Se olharmos para todos estes bancos, que em conjunto representariam uma fatia excepcionalmente importante do sistema financeiro português, veremos que pelo menos meia dúzia dos seus dirigentes se encontra actualmente em situação delicada. Uns são arguidos, outros estão presos, quase todos aguardam julgamento, outros ainda esperam por resultado do recurso. Ainda hoje não sabemos sequer se serão julgados, muito menos se vai haver prescrições. Mas certo é que são muitos os arguidos e os condenados.
No tempo dos governos de esquerda, intervinha-se descaradamente nos bancos, nomeavam-se amigos e as entidades públicas emprestavam dinheiro a indivíduos para especular e intrigar em bancos privados. Nos tempos da coligação de direita, governo e Presidente da República ofereciam aos depositantes e aos contribuintes garantias de confiança que não souberam, não puderam ou não quiseram cumprir. Nos tempos de ambos, esquerdas e direitas, os governos faziam o possível por mostrar que nada tinham que ver com a banca, que era coisa dos accionistas, da União e do BCE. Ou do Banco de Portugal, como se este fosse alienígena. E havia uma evidente esquizofrenia. O governo intervinha e condicionava, mas dizia que nada tinha que ver com isso. Os cidadãos, com receio de ter de pagar pelos desastres, queriam que o governo interviesse e assumisse as suas responsabilidades. Esperavam não ter de pagar as favas, isto é, ficarem os depositantes sem depósitos, os accionistas sem capital e os cidadãos sem impostos.
O actual governo de esquerda está evidentemente metido numa embrulhada de todo o tamanho. Já disse a todos que podem ter calma e que não haverá sarilhos, maneira inconfundível de dizer que vai haver. Já garantiu todos os depósitos dos clientes do Banif. E já ameaçou os accionistas e os contribuintes de que talvez tenham de pagar os estragos. Como ser equitativo, isto é, como tratar de modo igual os accionistas, os credores, os investidores e os depositantes de todos os bancos, é coisa que não sabe nem calcula.
Há dez ou vinte anos que uma grande parte da banca portuguesa, associada a uns punhados de políticos trapaceiros, tem vindo a escrever uma das mais negras páginas da história económica e financeira do nosso país. Quando terão os portugueses direito a saber tudo o que se passou nesta longa história bancária? Quando conhecerão, com os nomes, os políticos responsáveis por esta inacreditável sucessão de desastres? Quando saberão, nominalmente, quais foram os banqueiros, bancários e capitalistas que tiveram directa intervenção, com eventuais ganhos, nesta trapalhada? Quando será possível distinguir entre incompetentes e salafrários?
Este enorme sarilho, com pelo menos três legislaturas e outros tantos governos, tem a assinatura de diversos autores, banqueiros, capitalistas e dirigentes políticos de vários partidos. Traduz um entrosamento de política e negócios inaceitável num Estado de direito e ameaçador da democracia. Transita e agrava-se de governo em governo. É uma herança cada vez mais pesada. Passam os défices e os prejuízos, as perdas e os desfalques, mas também as cumplicidades, a incompetência e a promiscuidade. Sem ruptura e sem justiça, tudo ficará na mesma. Isto é, pior.
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

KILAMBA KIAXI

Kilamba Kiaxi.


A isto chama-se “bolha imobiliária”!
Milhares de casas (prédios), cuja construção somente serviu para encher os bolsos dos empreiteiros chineses, mas que não têm uso, já que a procura de gente com posses, é inferior à oferta !
Angola gasta os seus rendimentos petrolíferos deste modo, e esquece as necessidades básicas da sua população.
Claro que algumas “luvas” escorrerão para as contas dos decisores angolanos.

 
Notícias de Angola.

 
Cadê o povo libertado dos colonialistas ?
  












O Hospital Central de Luanda, construído por empresas chinesas, teve de ser evacuado dois anos (repete-se: dois anos) após a sua inauguração por risco de desmoronamento. As imagens acima apresentadas não são do Hospital Central de Luanda, mas são verdadeiras – apesar de se assemelharem a uma fantasia da Legolândia. Situado a cerca de trinta quilómetros a sudeste de Luanda, Kilamba Kiaxi é o rosto mais conhecido de um projecto de construção habitacional que prevê a edificação de 36 cidades-satélite em Angola. Erguido em menos de três anos pela China International Trust and Investment Corporation, Kilamba Kiaxi é composto por 750 arranha-céus. Custou 3,5 mil milhões de dólares. A comercialização dos apartamentos acabou por ir parar à Sonangol, que criou uma subsidiária para tratar da venda deste mega-empreendimento, a SONIP. A SONIP, por sua vez, subcontratou a venda do Kilamba à Delta Imobiliária, uma empresa privada que era propriedade de Manuel Vicente e do general Kopelipa, entre outros, a quem foi adjudicado o contrato de venda sem lançamento de concurso público. Os preços são inacessíveis para 95% dos angolanos, com as casas mais baratas a custarem 125 mil dólares. Os bancos privados não estavam interessados em disponibilizar crédito para a compra destas habitações. E, em meados de 2012, apenas 300 dos 3180 apartamentos do Kilamba haviam sido vendidos. Aproximando-se as eleições, o governo decidiu disponibilizar 43 apartamentos a cada ministério, dando ordens para que os mesmos fossem distribuídos entre os altos funcionários. Na campanha eleitoral, o MPLA mostrou imagens de famílias felizes a viver no Kilamba. Mas havia um problema: essas famílias não viviam lá, foram só ao Kilamba para tirar fotografias de propaganda. O Kilamba é hoje uma cidade-fantasma, ou perto disso.



        
         Este e outros desvarios são contados ao pormenor por Ricardo Soares de Oliveira, investigador da Universidade de Oxford. O livro acaba de sair ou está prestes a chegar às livrarias (notícias aqui ou aqui). Chama-se Magnífica e Miserável. Angola desde a guerra civil. Não, não é um panfleto incendiário nem uma diatribe contra a elite petrolífera de  Luanda. É o melhor livro que li sobre Angola: sério, rigoroso, informado, assente em fontes seguras e muito trabalho de campo. Tudo o que ali se diz é escrutinado e confirmado. Após a sua leitura, percebemos melhor o que é Angola nos nossos dias.

 



 

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

O PETRÓLEO DO KUWAIT CHEGA A PORTUGAL

Petróleo do Kuwait chega hoje a Portugal

Pedro Lopes e Daniel Carvalho, Vapo Atlantic


Com investimento de 50 milhões, a Kuwait Petroleum quer assegurar uma rede mínima de 50 estações de serviço até 2020. A Vapo Atlantic é o representante exclusivo e promete preços mais baixos
A Kuwait Petroleum International, uma das dez maiores petrolíferas do mundo, vai investir 50 milhões de euros numa rede de postos de combustível em Portugal. O objetivo da empresa, que opera sob a marca Q8, é chegar a 2020 com 50 estações de serviço. A primeira é hoje inaugurada em Azurém, Guimarães. E promete preços mais baixos do que a concorrência.
"Portugal é um mercado de tal forma fechado e dominado pelas grandes companhias que, se queríamos crescer, teríamos de importar diretamente a matéria-prima. E assim surgiu a nossa associação à Kuwait Petroleum", explica Pedro Lopes, diretor-geral da Vapo Atlantic, o distribuidor exclusivo da Q8.
"Somos já o segundo maior cliente da Q8 em Espanha, importamos qualquer coisa como 40 mil milhões de litros ao ano. Quando a Kuwait Petroleum entendeu expandir o negócio na UE, só tivemos de os convencer a olhar para o mercado ibérico como um todo, em vez de se concentrarem apenas em Espanha", explica Daniel Carvalho, o outro sócio-gerente da empresa.
Os empresários não abrem o jogo sobre o ritmo de abertura de novos postos, sublinhando apenas que estão "disponíveis para negociar com os operadores, independentemente da dimensão ou localização geográfica". O único requisito é que o projeto apresente "viabilidade financeira". Uma coisa é certa, a Vapo Atlantic espera duplicar o volume de negócios já em 2016, o primeiro ano completo de atividade de representação da Q8, com um valor próximo dos 90 milhões de euros.
A grande maioria dos pontos de venda Q8 surgirão por via de aquisição, arrendamento ou exploração de postos já existentes. Mas também está prevista a construção de novas áreas.
E o que trará a Q8 de novo ao mercado? Melhores preços para os revendedores e para o consumidor, prometem Pedro Lopes e Daniel Carvalho. "A nossa intenção assenta numa melhor distribuição das margens pela cadeia de valor, ao contrário do que se verifica atualmente com os grandes operadores", sublinham. E como pretendem fazê-lo? "Há espaço em Portugal para novas formas de operar e foi isso que quisemos trazer com esta parceria com a Q8", diz Pedro Lopes. A empresa irá trabalhar com base no Platts, o índice dos combustíveis no mercado internacional, e apresentar diariamente os melhores preços. "Hoje, o preço no mercado até pode cair um dólar por barril que os consumidores em Portugal vão sempre pagar o mesmo até à segunda-feira seguinte. Nós vamos mexer no preço todos os dias se se justificar. É essa elasticidade que nos torna competitivos. Garantimos aos revendedores que, se estão a comprar com 20 cêntimos de desconto ao fornecedor habitual, nós iremos oferecer pelo menos 21 cêntimos."
Na prática, a Vapo Atlantic passará a oferecer preços low-cost associados à imagem de credibilidade de uma das dez maiores petrolíferas do mundo. "Muitas vezes as pessoas veem o preço baixo e desconfiam por ser uma marca branca. Há quem não abasteça nos hipermercados porque não sabe a proveniência dos combustíveis. Aqui, é a imagem de uma companhia associada aos preços mais baixos do mercado", explica Daniel Carvalho.
"Não queremos uma guerra de mercado. Mas há muitos postos em Portugal com imagem de companhias, mas cujos contratos já acabaram. Não têm dinheiro para investir em coisa nenhuma. Nós podemos ser a solução. Porque há dinheiro. São 50 milhões para investir."

domingo, 13 de dezembro de 2015

O ESTADO DE GRAÇA

O estado de graça é isto

João Miguel Tavares, Público, 1 de Dezembro de 2015

Há quem diga que António Costa não vai ter direito a estado de graça. Discordo. Ele já está em estado de graça. Pelo país inteiro, celebra-se a libertação do jugo passista como os franceses festejaram a libertação de Paris. Um novo David, munido de poucos votos mas muita pontaria, conseguiu derrubar o malvado Golias, que oprimia os pobres e desvalidos através da terrível austeridade. Basta olhar para a felicidade estampada nos textos de tanta gente: foi melhor assim do que se o PS tivesse ganho as eleições. Mais inesperado. Mais cruel. E, por isso mesmo, mais justo.

Para encontrarmos bons exemplos desse estado de graça basta ler o PÚBLICO dos últimos dias. José Pacheco Pereira, que tanto aprecia anunciar ao mundo a sua frígida lucidez, desta vez escreveu uma crónica onde todos os parágrafos padecem de acne juvenil, só pelo prazer de poder gritar: «Acabou!!!!». E reparem que não é um «acabou!!!!» qualquer. É um «acabou!!!!» nascido de dezenas de conversas com o povo oprimido da Marmeleira. Um «acabou!!!!» afinado com a luta antifascista. Escreve ele: «um alto e sonoro ‘acabou’ como antes do 25 de Abril se chegava ao ‘às armas’ da Portuguesa e de repente toda a gente gritava a plenos pulmões». O estado de graça é isto.

Rui Tavares, no seu texto de ontem, preferiu valorizar uma questão simbólica: «Não foram mencionados os títulos académicos dos novos ministros e secretários de Estado durante a tomada de posse do novo Governo. A ser verdade, é uma revolução.» Note-se que ele não faz a coisa por menos. «Uma revolução». Deixar de tratar Augusto Santos Silva por «professor doutor» é «uma revolução». Eu cá trocava alegremente a permanência de «professor doutor» pela impermanência de Augusto Santos Silva. Assim de repente, parecer-me-ia coisa muitíssimo mais revolucionária. Mas isso deve ser porque sou de direita. O imenso povo de esquerda, que nunca precisou de muito para se entusiasmar, acredita que a abolição dos títulos académicos é apenas o primeiro passo para a abolição de todas as desigualdades. O estado de graça é isto.

Também no dia de ontem, num texto intitulado «A estratégia de um governo que quer ir além da política de rendimentos», Paulo Pena explica as razões do «incomum afastamento do ministro das Finanças, Mário Centeno, do ‘pódio’ da hierarquia governamental». A tese, acompanhando os discursos de António Costa, é a de que as questões financeiras são agora assumidas como «instrumentais», e não «estratégicas», e de que esta nova «visão» é aquela que irá ser vendida na Europa, certamente para grande espanto dos burocratas de Bruxelas, que nunca ouviram falar em tal coisa. De facto, só um génio se lembraria de que o grande problema português não está na dívida mas na falta de competitividade da economia. Estou certo que mal acabe de explicar isto a Wolfgang Schäuble, António Costa, expelindo sonoros ulos de «eureka!!!!», irá provar ao mundo que é mais fácil empurrar um cilindro do que um paralelepípedo.

Mas Paulo Pena tem fé: se Costa for capaz de levar a sua avante, «talvez a expressão ‘um tempo novo’, que prometeu no discurso de tomada de posse, faça sentido». E conclui: «Mesmo que o não consiga, mais fácil parece ser a promessa que deixou aos seus ministros e secretários de Estado, na sala dos Embaixadores, no Palácio da Ajuda: ‘Foi para um projecto entusiasmante que vos convidei.’» Entusiasmante, de facto. O mal foi vencido. A esperança vive. O estado de graça é isto.




sábado, 12 de dezembro de 2015

UMA BELA PONTE

Ponte portuguesa eleita uma das 10 melhores do mundo


Site de referência de arquitetura elogiou o dinamismo da ponte cor de laranja que se encontra em Telheiras
A ponte cor de laranja que liga Telheiras às Torres de Lisboa foi eleita uma das 10 melhores do mundo pelo Designboom, um site sobre arte, arquitetura e design que é já uma referência nestas várias áreas.

QUEM FINANCIA O ISLÂMICOS?

Putin garante que deu exemplos de "pessoas identificáveis" que contribuem para o financiamento dos terroristas
O Presidente russo, Vladimir Putin, declarou na segunda-feira que pelo menos 40 países financiam o grupo autointitulado Estado Islâmico, entre os quais alguns membros do G20.
"O financiamento, como sabemos, provém de 40 países, entre eles vários países do G20", disse Putin numa conferência de imprensa, na segunda-feira, na cidade turca de Antalya.
Putin sublinhou que durante a reunião da cimeira do G20 que decorreu na Turquia deu vários exemplos sobre "o financiamento a várias unidades do Estado Islâmico por pessoas identificáveis".
Sobre o mesmo assunto, frisou que durante a cimeira foi abordada a necessidade de se cumprir a resolução sobre prevenção ao financiamento do terrorismo adotada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, por iniciativa da Rússia.
Putin revelou que apresentou, durante a cimeira, imagens captadas por aviões espiões em que se "mostra claramente a magnitude que atinge o tráfico ilegal de petróleo" por parte do Estado Islâmico.
"As imagens mostram as colunas de camiões cisterna que se estendem por dezenas de quilómetros", assinalou referindo-se ao tráfico de crude que financia o califado.
Putin disse que depois de terem negado cooperação à Rússia na luta contra o extremismo na Síria, todos os países, incluindo os Estados Unidos, estão agora a tomar consciência de que o terrorismo só se pode combater com o envolvimento de todos os países.
"Os trágicos acontecimentos" ocorridos em Paris "confirmam que temos razão" ao propor uma coligação antiterrorista internacional, acrescentou Putin.
Sendo assim, pediu para que se deixe de discutir a eficácia da operação aérea russa contra as posições do Estado Islâmico na Síria e a reunir esforços contra o terrorismo, em concreto para prevenir os atentados em todo o mundo.
"Lamentavelmente, ninguém está a salvo dos atentados terroristas. Por exemplo, a França estava entre os países que mantinham uma postura muito firme contra o presidente, Bashar al Assad", afirmou.
"Isto salvou Paris dos ataques terroristas? Não" acrescentou o chefe de Estado russo.
"Parte da oposição armada síria considera possível iniciar ações armadas contra o Estado Islâmico caso sejam apoiados pela Força Aérea e nós estamos dispostos a ...

AUMENTOS?

UM GOVERNO QUE ESTEJA AO LADO DO POVO NÃO DEVE DEIXAR AUMENTAR OS PREÇOS QUANDO AS MESMAS TENHAM LUCROS DE MILHÕES.
AUMENTAM OS PREÇOS PARA OS ACCIONISTAS GASTAREM OS DIVIDENDOS EM LUXOS, SUSTENTAR FAMÍLIAS OCIOSAS DONDE SAIRÃO HOMENS QUE SÓ SABEM GASTAR O FRUTO DA ESCRAVIDÃO DO POVO.

O SORTEIO DE E-FACTURA

O anterior governo premiou os contemplados com carros de luxo. Este facto foi uma negação da situação económica do País com um baixo nível económico e em crise. O governo a "dar" luxo aos povo e ao mesmo tempo cortando-lhes os vencimentos. Houve problemas com algumas famílias contempladas... foi uma contradição. QUEM PODE ENTENDER ISTO?
Um governo a cortar economicamente e a oferecer bens de luxo...
Levantei a minha fraca voz mas eles não ouviram ou porque fossem moucos ou burros.
Espero que este governo premeie os beneficiados com bens an nosso nível e não ao dos povos ricos.
Hala um pouco de sensibilidade!

O FASCISMO ISLÂMICO

O fascismo islâmico por quem o viu chegar



As pessoas das letras podem permitir-se falar. Entre o povo, o fascismo islâmico é quase inominável - chiu!, não vá dar argumentos aos Trump e às Le Pen desta vida... -, mas a intelligentsia, essa, pode premiar o 2084: la fin du monde (2004, O Fim do Mundo), livro do argelino Boualem Sansal. Presente em quase todas as listas premiáveis deste outono literário de Paris, ganhou o grande prémio do romance da Academia Francesa. Se bem se lembram, este ano começou com o lançamento do livro de Michel Houellebecq, feito de forma discreta porque coincidiu com a matança dos desenhadores do Charlie Hebdo. O romance de Houellebecq, Submissão, é uma ficção política em que os islamistas conquistam a França, pelo voto, já daqui a meia dúzia de anos, aproveitando as hesitações da esquerda e da direita moderada em relação a Marine Le Pen. O livro de Sansal manda para mais tarde o desfecho - sugerindo uma data que lembra 1984, a do livro de Orwell - e é também sobre um totalitarismo. Mas não se ganhou com a demora: "O 2084 é bem pior que o meu Submissão", disse Houellebecq. E não se referia ao estilo, mas ao destino de todos nós sob o fascismo islâmico.
Boualem Sansal é argelino, foi alto funcionário até se tornar crítico do regime militar, mas continua a viver na pequena cidade de Boumerdès, próximo de Argel, a caminho do país berbere. Aos 66 anos, ele bebe ainda na criança que foi na casa de Argel a cem metros da casa do prémio Nobel Albert Camus, e escreve em francês. Sansal é filho das Luzes, a religião sendo assunto de cada um, e só para os que a querem. É adversário - um inimigo, até, pois diz-se "islamistófobo" - daqueles que lhe falam com o punhal na mão. A revista literária francesa Lire - que lhe considerou o romance 2084 como o melhor livro do ano -, fez-lhe na mais recente edição uma entrevista notável. Nunca se ouve falar assim deste tão sensível assunto que, se não nos entrou ainda em casa, estamos certos da terrível ameaça de se aproximar da nossa porta.
Como George Orwell, em 1984, que não nomeia o inimigo (nem o fascismo, nem o comunismo) para poder ir ao osso da crítica ao totalitarismo, Boualem Sansal, em 2084, fala do Abistan, império criado pelo profeta Abi, delegado do deus único Yölah. Mas é bem do mundo islâmico regido como querem os radicais do salafismo, isto é, o retornar às fontes do islão de Maomé, lidas sem ter em conta que já se passaram 1400 anos. O Estado Islâmico vamos todos conhecendo, gente que só pensa destruir o outro.
Não é novidade para o argelino Sansal. Ele viu chegar os islamistas ao seu país, na década de 80 - com a América a aplaudi-los, porque eles enfraqueciam o poder da FLN, que ainda tinha, embora tensas, relações com a França (e, como sempre, os americanos a aproveitar para afastar as antigas potências coloniais, apesar de aliadas). Os idiotas úteis em França, também se deliciaram com as vitórias eleitorais dos radicais islâmicos. A História só não se adiantou 20 anos, com os desastres das primaveras árabes, porque os militares argelinos e a sociedade civil, sobretudo mulheres, não aceitaram ir para a degola.
Diz Sansal, à Lire: "Quando os islamistas chegaram à Argélia nós estávamos dispostos a aceitá-los (...), a ver neles cidadãos como os outros." Mas os islamistas não entendiam assim. "Eles diziam: nós falamos em nome de Deus e Deus quer tudo." E então, aquilo que Boualem Sansal e os outros intelectuais (Tahar Djaout, assassinado, Said Mekbel, assassinado...), os cabelos ao vento das argelinas e a alegria dos cantores de raï (Matoub Lounes, assassinado...) pensavam ser só uma novidade religiosa, era a morte. "A fé em si mesma, eu não sabia nem sei como criticar, se você diz que tem frio, que lhe posso dizer?" Mas se do domínio íntimo e pessoal se passa para o regulamento estrito e total do dia a dia, o assunto passava a ser outro. Os argelinos tiveram a sorte de ter conhecido a dimensão totalitária do islamismo, antes de este se ter tornado a força poderosa e cega dos dias de hoje.
Boualem Sansal, como é notório no seu 2084, é pessimista. O califato otomano, aquele que dominou o Próximo Oriente até ao princípio do século XX, já era. Ele ainda oferecia alternativas aos povos que submetia. Os cultos dos outros, cristãos ou judeus, restritos, os impostos especiais, os muitos cargos oficiais proibidos para os não muçulmanos - mas uma certa aceitação, se houvesse submissão. "Essa conceção do outro, hoje já não é possível", diz Sansal. Hoje, é como explica o Estado Islâmico: o outro é cadáver, logo que se possa.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

A SÍRIA

Lê e vais compreender....
 
   
SABIA ISTO DA SÍRIA?

A família Assad pertence ao Islão tolerante da orientação Alawid.
As mulheres sírias têm os mesmos direitos que os homens ao estudo, à saúde e à educação.
Na Síria as mulheres não são obrigadas a usar burca. A Chária (lei Islâmica) é inconstitucional.
A Síria é o único país árabe com uma constituição laica e não tolera os movimentos extremistas islâmicos.
Cerca de 10% da população síria pertence a alguma das muitas confissões cristãs presentes desde sempre na vida política e social.
Noutros países árabes a população cristã não chega a 1% devido à hostilidade sofrida.
A Síria é o único país do Mediterrâneo que continua proprietário da sua empresa petrolífera, que não quis privatizar.
A Síria tem uma abertura à sociedade e cultura ocidentais como nenhum outro país árabe.
Ao longo da história houve cinco Papas de origem síria. A tolerância religiosa é única na zona.
Antes da guerra civil era o único país pacífico da zona, sem guerras nem conflitos internos.
A Síria é o único país árabe sem dívidas ao Fundo Monetário Internacional.
A Síria foi o único país do mundo que admitiu refugiados iraquianos sem nenhuma discriminação social, política ou religiosa.
Bashar Al Assad tem um suporte popular extremamente elevado.
Sabia que a Síria possui uma reserva de petróleo de 2500 milhões de barris, cuja exploração está reservada a empresas estatais?
Talvez agora consiga compreender melhor a razão de tanto intere$$e da guerra civil na Síria e de quem a patrocina ...

UM POUCO DE HISTÓRIA

Quando os EUA nasceram, no final do séc. XVIII, havia uma grave crise com os muçulmanos do norte da África. Eram povos oficialmente muçulmanos, que viviam sob as leis do Corão.
- Estes islâmicos atacavam os navios que passavam pelo Mediterrâneo, incluindo americanos, sequestrando, escravizando e matando ocupantes, além de saquear a carga. Os navios americanos eram normalmente protegidos pela marinha inglesa antes da independência mas depois de 1776 era cada um por si.
- Os piratas muçulmanos cobravam fortunas como resgate dos reféns e os preços sempre subiam a cada sequestro bem sucedido. Thomas Jefferson se opôs veementemente aos pagamentos mas foi voto vencido, os EUA e as outras nações com navios sequestrados estavam aceitando pagar os resgates e subornar os piratas. O presidente americano era George Washington.
- Por volta de 1783, Thomas Jefferson, Benjamin Franklin e John Adams vão para a Europa como embaixadores para negociar tratados de paz e cooperação. Os EUA nasceram em 1776 e estavam mergulhados até então na Guerra de Independência. Assim que a situação acalmou, essas três figuras icônicas saem em missão diplomática para representar o país.
- Em 1786, depois de dois anos de conversas diplomáticas com os islâmicos, Thomas Jefferson e John Adams encontraram com o embaixador dos povos que ficavam na região de Trípoli, na atual Líbia, chamado Sidi Haji Abdul Rahman Adja. Jefferson estava incomodado por conta dos ataques que não acabavam mesmo com todos os esforços de paz e quis saber com que direito os muçulmanos sequestravam e matavam americanos daquele jeito.
- A resposta que ouviu marcou Jefferson para sempre: "o islã foi fundado nas Leis do Profeta, que estão escritas no Corão, e diz que todas as nações que não aceitarem a sua autoridade são pecadoras, que é direito e dever declarar guerra contra seus cidadãos onde puderem ser encontrados e fazer deles escravos e que todo muçulmano que for morto na batalha irá com certeza para o Paraíso." Jefferson ficou chocado, ele não queria acreditar que uma religião literalmente mandava matar todos os infiéis e que quem morresse na batalha iria para o paraíso.
- Durante 15 anos, o governo americano pagou os subornos para poder passar com seus navios na região. Foram milhões de dólares, uma quantia que representava 16% de todo orçamento do governo federal. O primeiro presidente do país, George Washington, não queria ter forças armadas permanentes por não ver riscos de ataques ao país, mas os muçulmanos mudaram esta ideia. Os subornos serviriam para evitar a necessidade de ter forças militares mas não estavam funcionando porque os ataques continuavam. Quando John Adams assume, o segundo presidente, as despesas sobem para 20% do orçamento federal.
- Em 1801, Jefferson se torna o terceiro presidente americano e, mal tinha esquentado a cadeira, recebe uma carta dos piratas aumentando o butim. Ele fica louco e, agora como presidente, diz que não vai pagar nada.
- Com a recusa de Jefferson, os muçulmanos de Trípoli tomaram conta da embaixada americana e declararam guerra aos EUA. Foi a primeira guerra da América após a independência, a marinha americana foi criada exatamente para esse conflito. As regiões das atuais Tunísia, Marrocos e Argélia se juntaram aos líbios na guerra, o que representava praticamente todo norte da África com exceção do Egito.
- Jefferson não estava para brincadeira. Mandou seus navios para a região e o conflito durou até 1805, com vitória americana. O presidente americano ainda colocou tropas ocupando no norte da África para manter a situação sob controle.
Thomas Jefferson ficou realmente impressionado com o que aconteceu. Ele era contra guerras e escreveu pessoalmente as leis de liberdade e tolerância religiosa que estão na origem da Constituição americana, mas ele entendeu que o Islã é totalmente diferente, era uma religião imperialista, expansionista e violenta.
Jefferson mandou publicar o Corão em inglês em 1806, lançando a primeira edição americana. Ele queria que seu povo conhecesse o Corão e entendesse aquele pessoal do norte da África que roubava, saqueava e matava, cobrava resgates e que declarou guerra quando os pagamentos cessaram.
Durante 15 anos, um diplomata de Jefferson chegou a dizer, os americanos eram atacados porque não atacavam de volta e eram vistos como fracos. A fraqueza americana foi um convite para os muçulmanos daquela época como é para o ISIS hoje. Só houve paz na região quando Jefferson atacou e venceu a guerra, depois ocupando o território. Não tem mágica, é assim que se faz.
Barack Obama quer saber como os muçulmanos estão na história americana? Eles estão como os motivadores da primeira guerra, eles forçaram a criação das forças armadas que nem existiam e fazem parte até do hino dos marines que começa com "From the Hills of Montezuma / To the shores of Tripoli".
" Grande parte da vitalidade de uma relação consiste muito mais no respeito pelas diferenças do que no desfrute das semelhanças".
 

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

ENRIQUECIMENTO ILÍCITO

COM ESTE GOVERNO ESPERO QUE SE ACABE DE VEZ COM ESTA FALSA LUTA CONTRA A CORRUPÇÃO, DANDO AOS JUÍZES UMA LEI VERDADEIRAMENTE  CONTRA A CORRUPÇÃO E O ENRIQUECIMENTO ILÍCITO.
SEM ELA É ANDAR A BRINCAR AO FAZ DE CONTA, ENGANANDO O POVO PORQUE UMA TAL LEI NÃO INTERESSA A CERTA GENTE.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

ISTO É CULTURA


Sem qualquer desrespeito pela Senhora Secretária de Estado da Cultura, gostaríamos de lhe pedir  que corrija as palavras que escreveu: "SENSURA", "TULERO" e  BLOQUIAREI
para, CENSURA, TOLERO e BLOQUEAREI
 

domingo, 6 de dezembro de 2015

A JUSTIÇA OCULTA


No debate que inaugura o governo, a Justiça foi uma enorme ausência. Apesar da presença de uma ministra com notável reputação e grande expectativa, verdade é que o governo decidiu estar calado nesse sector. E, no entanto, a justiça é, a seguir às finanças, a área mais sensível e a mais complexa de todas. Um bom trabalho de investigação descobrirá tendências vigorosas na área das influências políticas e corporativas sobre a Justiça, assim como tentativas de captura do sistema. Conforme os governos, os partidos no poder e os presidentes da República, mas sobretudo conforme as figuras do Supremo Tribunal de Justiça e do Conselho Superior da Magistratura e ainda conforme os dirigentes da Procuradoria-Geral da República e da Polícia Judiciária, o destino da justiça conheceu inflexões. Mais ou menos pronta. Mais ou menos atrevida. Com mais ou menos interesse nos crimes económicos. Com maior ou menor atenção aos crimes políticos.
Portugal é o país da Europa com mais dirigentes políticos e económicos na prisão, condenados, a cumprir pena, com pena suspensa, à espera de recurso ou de julgamento, arguidos, com termo de residência, com pulseira electrónica, sob investigação criminal... Primeiro-ministro, ministro, secretário de Estado, deputado, líder de grupo parlamentar, banqueiro, empresário, secretário-geral de ministério, director-geral, presidente e vice-presidente de instituto, subdirector-geral, chefe de polícia, dirigente de serviços de informação, presidente de câmara, vereador... De todos estes cargos há pelo menos um, às vezes dois ou três exemplos vivos.

Na verdade, a Justiça é o maior teste à democracia. Nos próximos anos, o que acontecer com os casos conhecidos será a referência do futuro das instituições democráticas: BPN, BPP, PT, BES, ASAE, SEF, Ongoing e tantos políticos, empresários e banqueiros... Problemas envolvendo dirigentes das polícias, dos serviços de informação e de espionagem e magistrados nunca foram elucidados, resolvidos ou julgados. O regime de segredo de Justiça está absolutamente inquinado. Estão por apurar processos com as parcerias público--privadas que podem envolver responsabilidade criminal. Se destes casos nada resultar, estaremos perante um desastre da Justiça e uma desgraça da democracia.
São excepcionalmente complexos os problemas políticos da Justiça portuguesa. Sejam os externos, de relação da Justiça com os cidadãos e com a política e a economia. Sejam os das facções políticas e corporativas no interior do sistema. O que for e não for feito na Justiça, nos próximos tempos, marcará a democracia portuguesa por longos anos.

QUE DIAS VIRÃO AÍ?

Os que só acham
Henrique Neto acha que Portugal corre o risco de ter um novo resgate. O pior destas frases-choque é que não chocam, não espantam, não chamam a atenção, são uma espécie de ladainha que nos habituámos a...
Editorial, André Macedo

sábado, 5 de dezembro de 2015

O EQUILIBRISMO DE MARIO CENTENO

novo governo

O equilibrismo impossível de Mário Centeno

Autor
27220 partilhas
O académico Mário Centeno não deixaria certamente de olhar com preocupação para as declarações do ministro Mário Centeno. E o pior é que o país está mesmo a poucos passos de um novo desastre.
Em Agosto referi-me a Mário Centeno e Manuel Caldeira Cabral, hoje respectivamente ministro das Finanças e ministro da Economia, como “economistas de créditos firmados”. Essa referência motivou – e continua a motivar – alguns comentários indignados e acusações variadas, mas mantenho o que escrevi na altura: os CVs académicos de ambos são perfeitamente respeitáveis no contexto das ciências sociais em Portugal e, pelo seu trajecto profissional, não destoariam num qualquer executivo liderado pelo PSD.
Mas ter um CV e um trajecto profissional em linha com o habitual em Portugal para o exercício de funções governativas não garante, por si só, sucesso nem durabilidade no desempenho dessas mesmas funções. Vale a pena a este propósito recordar os casos de Daniel Bessa – como ministro da Economia – e de Luís Campos e Cunha – como ministro das Finanças. Ambos tinham também credenciais académicas e chegaram até ao Governo com maior peso político do que Centeno e Caldeira Cabral, mas nem por isso as suas passagens pelo poder foram bem sucedidas.
O caso de Mário Centeno – pela centralidade da pasta das Finanças e pelos compromissos externos a que Portugal se encontra vinculado – é particularmente difícil. Mais ainda num contexto político em que o PS governa sustentado pela esquerda radical. Se a função de Centeno já seria complexa em condições políticas normais, ela torna-se um desafio de equilibrismo virtualmente impossível com a extinção do “arco da governação” que António Costa achou por bem executar para chegar ao poder.
As posições assumidas – e reafirmadas – por bloquistas e comunistas em matéria de finanças públicas sugerem que Centeno corre o risco de ser um mero adorno decorativo para tentar atribuir alguma respeitabilidade à linha de orientação política defendida pela extrema-esquerda e pela ala mais radical do PS. Se tal não se confirmar, e Centeno provar ser mais do que uma figura decorativa, o Estado português poderá talvez preservar a sua credibilidade externa, mas a ruptura com BE e PCP será inevitável.
A interpelação do deputado do PSD Miguel Morgado ao ministro das Finanças Mário Centeno, assim como as respostas dadas por este último, foram a este respeito particularmente reveladoras. Ao recordar publicações académicas recentes nas quais Centeno alertava para os riscos associados a aumentos do salário mínimo, o deputado do PSD colocou o dedo na ferida. A credibilidade científica e profissional de Centeno nos meios académicos nacionais resulta de um trabalho e de um pensamento que são em larga medida incompatíveis com o receituário que o Governo de que faz parte ameaça aplicar ao país.
O facto de praticamente todo o discurso político de Centeno se centrar em medidas de curto prazo – abandonando preocupações de natureza estrutural com a competitividade da economia portuguesa – é especialmente preocupante. Daí que quando o ministro Mário Centeno respondeu à interpelação do deputado Miguel Morgado dizendo que não podemos transpor conclusões de artigos científicos para a legislação nacional porque tal tentativa seria “um passo para o desastre”, Centeno está ele próprio a reconhecer implicitamente a impossibilidade do exercício de equilibrismo no qual se deixou envolver.
O académico Mário Centeno não deixaria certamente de olhar com preocupação para as declarações do ministro Mário Centeno. E o pior é que o país está mesmo a poucos passos de um novo desastre.
Professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

NÃO QUERO MORRER DE QUALQUER MANEIRA...


   
A semana passada deixei de comer chouriços. E presunto. E fiambre. E mortadela!!! Esta semana deixei de comer queijo. “Afecta a mesma molécula das drogas duras”, dizia um estudo. Eu não quero ter nada a ver com isso, gosto muito de queijo, mas não quero ter nada a ver com drogas, muito menos ser visto como um agarrado ao queijo. Acabou-se com o queijo cá em casa. Também já tinha acabado com o pão, por isso…
O mês passado deixei de beber vinho branco. Um estudo dizia que fazia mal a não sei quê. Se calhar era cancro também. Passei a beber só tinto que dizia um estudo ser ideal para uma série de coisas. Esta semana voltei a beber branco porque entretanto saiu um estudo a dizer que afinal o branco até tem propriedades que fazem bem e muito tinto é que não. Comecei a reduzir no tinto mas, também, acho que compreendem, não quero morrer assim de qualquer maneira.
Cortei nas azeitonas também porque um estudo dizia que têm demasiada gordura, são muito insaturadas, ou lá o que é, mas não parece nada bom.
Andava praticamente a peixe até perceber que os portugueses comem peixe a mais e são, por isso, prejudiciais ao ambiente. Eu sei que não moro no continente mas como sou português, e ainda contam todos para o estudo, sei lá, os que estão e os que não estão, e como eu não quero ser acusado de inimigo do ambiente, ando a cortar no peixe também. Especialmente no atum que está cheio de chumbo e o bacalhau também porque causa daquele estudo que saiu sobre a quantidade de sal mas, também, acho que compreendem, não quero morrer assim de qualquer maneira.
Esta semana saiu um estudo a dizer que afinal o vinho em geral faz mal. Fiquei devastado. Há dois meses foram as couves roxas. Vi até um especialista na televisão dizer que não devíamos comer nada cuja cor seja roxa; “é sinal que não é para comer”, dizia. Arroz também quase não como porque engorda, quanto mais esfregado pior, e saiu um estudo a dizer que implica com uma função qualquer mais ou menos delicada. Não é a reprodutora porque acho que essa é com a soja. Dá hormonas femininas aos homens, e consequentes mamas, o raio da soja (!) e prejudica as funções todas. Não, soja nem pensar!
Leite também já há muito que me livrei dele. Foi, salvo erro, desde que saiu um estudo a dizer que o nosso corpo não está preparado para leites. Por isso, leite não. Sumos de frutas também dispenso enquanto não resolverem o problema levantado no estudo que apontava para… não sei muito bem para quê, mas apontava e não era nada excitante mas, também, acho que compreendem, não quero morrer assim de qualquer maneira.
Carne vermelha, claro, também não. Ataca o coração, diz o estudo. Galinha nem sonhar porque umas estão cheias de gripe e as outras encharcadas de antibióticos. Além de que carne de galinha a mais, como dizia outro estudo, impacta com o desenvolvimento dental, o que até parecia óbvio mas ninguém percebia, pois as galinhas não desenvolvem dentes. Cortei a galinha há muito tempo. Porco? Só a brincar. É óbvio que não há cá porco. Não chegassem as salsichas e afins ainda veio este outro estudo, ou ainda não leu? Pois então, diz que o excesso de carne de porco pode provocar uma diminuição de massa cinzenta e o aumento dos ciclos atópicos do mastoideu singular. Ninguém quer passar por isso! Você quer? Eu não mas, também, acho que compreende, não quero morrer assim de qualquer maneira. Esqueça-se a carne de porco, pelo amor da santa!
Ah!… Já me esquecia do glúten! Glúten, também não. É que nem pensar! Durante muitos anos nem sabia que existia, mas desde que me apercebi da existência de semelhante coisa arredei tudo o que tivesse glúten. Deixa-me pouca escolha mas, também, acho que compreendem, não quero morrer assim de qualquer maneira.
Ovos! Claro que também não como ovos. Primeiro porque não sou nenhum ovíparo e depois por causa das quantidades de coisas que aquele estudo que saiu a semana passada dizia. É um rol senhores, um rol e colesterol! Vão ver e admirem-se! Os ovos! Quem diria os ovos… Enfim, é a vida: ovos nem vê-los! Como a manteiga: é só gordura! Desde que acabei com o pão e com o queijo, a manteiga também, por assim dizer, deixou de fazer falta. Ainda a usava para fritar ovos mas agora também não se pode comer ovos… Pois, a manteiga, dizia o estudo, é só gordura animal e animais não devem comer a gordura uns dos outros. Pareceu-me um bom fundamento e acabei com a manteiga.
Ia fazer uma salada. Sem muito azeite, claro, porque, compreendem, não quero morrer assim de qualquer maneira, sem sal, naturalmente e vinagre só do orgânico, porque, compreendem, não quero morrer assim de qualquer maneira…
É quando recebo um email com o título “Novo Estudo Aconselha a Ingestão Moderada de Saladas e Hortaliças”.
Enchi um copo de água, filtrada, naturalmente, de garrafa de vidro e sorvi um golo ávido. Espero que não me faça mal.


A obsessão jihadista pelo Al ANDALUS


Sob a forma de mapas ou de vídeos a circular na internet, as ambições dos jihadistas de incluir a Europa no seu califado são há muito conhecidas. E a cobiça é tanta que até a Áustria, que em 1683 resistiu à última tentativa de conquista pelos otomanos, surge como território a retomar, mesmo nunca tendo sido islâmica, ao contrário de Balcãs e Península Ibérica. Ora, o Al-Andalus - quase toda a Espanha e Portugal -, é mesmo uma obsessão para os fanáticos do Islão, e muito antes de se ouvir falar do Estado Islâmico já a Al-Qaeda o tinha na mira, através das mensagens do egípcio Ayman al-Zawahiri, que depois da morte em 2011 do saudita Osama bin Laden, assumiria a liderança da organização terrorista.
O que tem o Al-Andalus de tão especial ? Para os 1500 milhões de muçulmanos é um período de ouro da sua história (que coincidiu com o apogeu de Badgad) e motivo de orgulho. Mas para os jihadistas é sobretudo uma arma de propaganda, uma "terra usurpada", como alguns textos referem, usada para motivar a adesão à guerra santa. Na realidade, aquilo que tornou o califado de Córdova (929-1031) tão admirável, mesmo fora do mundo islâmico, foi a relativa tolerância, a coexistência de muçulmanos, cristãos e judeus, o apego das elites às artes e à ciência. Ou seja, o contrário da prática nesses leste da Síria e oeste do Iraque onde já proclamaram o novo califado, com o iraquiano Abu Bakr al-Baghdadi como líder.
Alguns dos portugueses que se integraram nas fileiras do Estado Islâmico trocaram mesmo os nomes por outros onde consta Al-Andalusi. Aconteceu até com um filho de imigrantes guineenses, que não procurou recuperar antes um nome ligado às comunidades muçulmanas da África Ocidental, o que comprova o prestígio de ostentar laços com o Al-Andalus.
Foi em outubro de 2001 que a televisão Al-Jazeera recebeu, no Qatar, um vídeo onde surgia a cúpula da Al-Qaeda no Afeganistão. Passava um mês sobre os atentados contra as Torres Gémeas de Nova Iorque e era a primeira comunicação de Bin Laden. Zawahiri também surge nas imagens e é ele que num esforço de mobilização das massas fala dos palestinianos, a mais popular das causas nos países muçulmanos, ligando--os ao passado ibérico do islão: "o mundo tem de saber que não permitiremos que se repita na Palestina a tragédia de Al-Andalus."
Passados 14 anos, a insistência jihadista prossegue, como se prova pelo vídeo desta semana, atribuído ao Estado Islâmico, em que afirmam querer "conquistar Paris antes de Roma e Al-Andalus", uma referência óbvia à França, que os combate na Síria, à Santa Sé e ao território perdido na Península Ibérica, uma presença que durou 500 anos em Portugal e mais de 700 em Espanha, até à tomada de Granada pelos Reis Católicos.
Fernando Reinares, especialista espanhol em terrorismo, lembrou já várias vezes que pelo passado islâmico os dois países ibéricos têm uma "vulnerabilidade diferencial" em relação a outros Estados da Europa. Isso é evidente no caso espanhol (onde o Alhambra e a mesquita de Córdova simbolizam o génio islâmico), como comprovam os atentados de 2004 em Madrid. Mas Portugal tem razões para se manter vigilante, mesmo que na sua comunidade muçulmana (60 mil pessoas) nunca tenham surgido extremistas como acontece em Espanha, França ou Reino Unido e os poucos jihadistas portugueses tenham origens fora da comunidade e até tenham sido radicalizados noutros países.
Académicos portugueses, como Felipe Pathé Duarte, também já salientaram essa vulnerabilidade, admitindo que "estamos, no caso específico do jihadismo, na rota de colisão". Isto porque "pertencemos ao ocidente e ao núcleo judaico-cristão, à União Europeia e à NATO", mas também, segundo o porta-voz do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo, por "Portugal pertencer ao antigo califado Al-Andalus".
Porém, em recente entrevista ao DN, o ministro dos Negócios Estrangeiros português desvalorizou o mito do Al-Andalus. "Não penso que o problema do Al-Andalus, uma ideia de vez em quando ressuscitada numa certa literatura árabe, tenha um fundamento sério. Agora, o que tem um fundamento sério é que há uma política claramente expansionista por parte do extremismo jihadista tipo o do ISIS. Porque, repare-se, a Al--Qaeda não tinha pretensões territoriais. Agora não. A política do ISIS tem sido uma conquista de terreno", afirmou Rui Machete.
A natureza da ameaça remete para outra tese de Fernando Reinares, pensada para Espanha mas aplicável a Portugal, e que tem que ver com a participação em ações militares no mundo islâmico. Afirmou o perito, num dos frequentes artigos no El País, que tem sido dado por certo que foi o protagonismo do primeiro-ministro José Maria Aznar na cimeira das Lajes (que decidiu em 2003 a guerra no Iraque) a pôr a Espanha na mira dos jihadistas, mas que na realidade desde o envio de tropas para o Afeganistão já Bin Laden elegera o país para retaliar.
Ora hoje, depois dos atentados de Paris, em que o Estado Islâmico assume estar a vingar-se dos bombardeamentos franceses na Síria, é evidente que a maior vulnerabilidade ao terrorismo decorre da atitude bélica em relação ao jihadismo. E que o mito do Al-Andalus pode, quando muito, motivar um lobo solitário ou uma célula que se inspire no modelo descentralizado de jihad que a Al-Qaeda promovia. Ao explodir no espaço de poucas semanas um avião civil russo, fazer um atentado num bairro xiita de Beirute e matar em Paris, o Estado Islâmico retaliou contra quem o combate no terreno, sejam russos, hezbollah ou franceses. E isso revela lógica militar, aliás um dos pontos fortes desse grupo, que conta com ex-militares de Saddam Hussein.
É, portanto, Portugal um possível alvo do jihadismo? Sim, mas mais por pertencer a essas União Europeia e NATO que se opõem ao Estado Islâmico do que por ter um longínquo passado árabe.