segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

SIM, FOI ESTE ANO...

 

 

  João Pedro Pereira  


 
 
 

27 DE DEZEMBRO DE 2021

 

Sim, foi este ano

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Nos tempos nebulosos da pandemia, é fácil perder balizas temporais, confundir datas e misturar eventos – especialmente numa área como a tecnologia, onde os acontecimentos se desenrolam a uma velocidade difícil de acompanhar e onde algumas histórias roçam a ficção.

Foi este ano que o capitólio dos EUA foi invadido por uma turba que se mobilizou online, levando as redes sociais a suspender a conta de Donald Trump. Foi este ano que novas denúncias sobre o funcionamento do Facebook afundaram ainda mais a reputação da empresa, que acabou por mudar de nome. Foi este ano que Jeff Bezos abandonou a liderança da Amazon e se estreou no turismo espacial. Foi este ano que alguém comprou com criptomoedas uma casa na Madeira, que uma influencer se tentou suicidar em directo, que Mark Zuckerberg pôs meio mundo a falar do metaverso, que a Web Summit regressou ao formato presencial em Lisboa, que a crise dos chips aumentou o preço dos computadores e pôs em causa a produção automóvel. 

Façamos uma breve revista ao ano tecnológico.

Um dia que não se esquece
A ira passou da Internet para a acção física. A 6 de Janeiro, perante um mundo de boca aberta, uma multidão invadiu o Capitólio dos EUA, para tentar evitar a ratificação da eleição de Joe Biden. As redes sociais não são causa única da polarização política, nem dos episódios de Janeiro nos EUA – mas têm sido peças fundamentais no processo. 

Donald Trump usou o Twitter, o Facebook e o YouTube para instigar os seus apoiantes e, mais tarde, para apelar a que fossem para casa. Acabou suspenso daquelas plataformas. Seguiu-se um debate sobre se empresas de Internet deveriam poder silenciar um político. Mais recentemente, Trump anunciou a sua própria rede social, chamada Truth Social.

O regresso da Web Summit
Depois de uma edição online em 2020, a Web Summit regressou ao formato presencial, embora com menos participantes (há quem prefira assim). O efeito da pandemia na afluência já levou o Governo a rever em baixa o retorno do evento. 

Nesta edição, uma empresa portuguesa venceu o concurso de startups: a Smartex quer reduzir o desperdício na indústria têxtil com um sistema de câmaras, luzes e algoritmos que vigiam o processo de fabrico à procura de defeitos. É a primeira vez desde que a Web Summit está em Lisboa que é distinguida uma startup portuguesa. 

Num assunto relacionado: o hub do Beato, um enorme espaço em Lisboa destinado sobretudo a empreendedores e startupscontinua por abrir. O projecto está agora nas mãos de Carlos Moedas, um autarca que tinha como medida programática transformar a cidade numa "fábrica de unicórnios". Boa parte dos espaços no hub já estão contratualizados e devem arrancar em 2022.

Fuga para a frente?
Em Setembro, uma investigação do Washington Post trouxe a público nova informação sobre o funcionamento interno do Facebook. Os ficheiros foram entregues ao jornal por uma antiga funcionária, Frances Haugen, que depois deu múltiplas entrevistas e palestras sobre os malefícios da rede social

Entre outras revelações, soube-se que assessores políticos criavam conteúdo polarizador porque o Facebook incentivava a isso; que um grupo de utilizadores VIP estava, na prática, isento do cumprimento das regras; que a empresa sabia que o Instagram era uma plataforma nociva para muitos utilizadores e, em particular, para raparigas adolescentes (o Facebook acabou por pôr um travão no plano de lançar um Instagram para crianças). 

Os executivos decidiram entretanto mudar o nome da empresa para Meta, que passa assim a ser a proprietária das várias plataformas (Facebook, Instagram e WhatsApp são as maiores). O nome aponta para o conceito de metaverso, um mundo digital paralelo, que Zuckerberg disse ser a sua visão para o futuro da vida online e que é provavelmente o jargão tecnológico de 2021. 

Mudanças no topo
Jeff Bezos, fundador da Amazon em 1994, deixou o cargo de CEO. A liderança ficou entregue a Andy Jassy, que está na empresa desde 1997. 

Em Julho, o magnata fez uma curta viagem ao espaço, num foguetão da sua empresa Blue Origin. Richard Branson, o dono da transportadora aérea Virgin e da empresa de exploração espacial Virgin Galatic, tinha feito mais ou menos o mesmo poucos dias antes. 

Também o CEO do Twitter, Jack Dorsey, abandonou o cargo. Dorsey pretende dedicar-se à Block, uma empresa de pagamentos e serviços financeiros (que antes se chamava Square e é dona da plataforma homónima). "Não há muitas empresas que cheguem ao nível do Twitter. E não há muitos fundadores que escolhem a empresa em vez do seu ego", escreveu Dorsey.

Aquele comentário pode ser interpretado como um remoque a Mark Zuckerberg, que permanece CEO do Facebook apesar da contestação – a este respeito, argumentei aqui que Zuckerberg é uma espécie de ditador preso na sua própria rede; Rui Tavares chamou-lhe um "rei-lua".

E ainda…
A União Europeia tem em curso um processo legislativo para garantir aos consumidores o direito a repararem os aparelhos que compram. A Apple já deu os primeiros passos, ao disponibilizar manuais, ferramentas e peças para alguns modelos de iPhone. É uma boa notícia, numa década que tem o ambiente como uma das grandes procupações.

As criptomoedas têm testado as águas do sistema financeiro tradicional contra o qual a própria bitcoin foi criada. Ainda assim, o futuro deste tipo de activo continua incerto. Legisladores e reguladores têm as criptomoedas no radar e, na União Europeia, as transferências acima de mil euros vão passar a ser alvo de maior escrutínio. Por cá, houve quem recorresse a criptomoedas para comprar uma casa na Madeira (a imobiliária facilitou o processo de câmbio, mas a transacção foi oficialmente feita em euros).

No TikTok, a rede social chinesa que está a ser um fenómeno de popularidade entre os mais novos, uma utilizadora tentou suicidar-se em directo. Acabaria por morrer no dia seguinte, no hospital, mostrando que as novas redes estão a repetir os erros das mais antigas.

A escassez de chips reverberou por vários sectores, da electrónica de consumo à indústria automóvel. Em Outubro, tinha causado uma quebra de cerca de 18% na produção da Autoeuropa, a fábrica da Volkswagen em Palmela.

A Fundação Champalimaud, em Lisboa, anunciou a criação de um centro dedicado à inteligência artificial. Está previsto um investimento de 35 milhões de euros.

Em tempos de fake newsa confiança nas notícias em Portugal subiu, de acordo com o relatório anual do Reuters Institute. Este indicador permanece bem acima da média dos 46 países analisados. É na Finlândia que as pessoas mais confiam no jornalismo.

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Esta newsletter volta para a semana, no arranque de 2022, com uma reflexão sobre a chamada Web3, que alguns dizem ser a próxima versão da Internet. Bom Ano!

 
 
 

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