quarta-feira, 18 de março de 2015

UM CONTO DE CRIANÇA

OPINIÃO
Um conto de crianças
VASCO PULIDO VALENTE
14/03/2015 - 06:54
A história do Syriza é uma lição para a esquerda, do Bloco ao PS.
A esquerda cá de casa já não abre a boca sobre o Syriza. O entusiasmo dos primeiros dias passou depressa; o que só prova a inconsciência da pobre e mentecapta gente que putativamente representa, na sua própria opinião, a única verdadeira “alternativa” à coligação do Governo e à chamada política de “austeridade”.
O Syriza entrou em cena com promessas tonitruantes, mas bastaram duas semanas para começar uma saída de sendeiro, barafustando como uma criança malcriada e birrenta, expulsa de um conto de crianças (sim, Passos Coelho, “um conto de crianças”). A infantilidade de banir a gravata, o blusão de couro, o casaco de gola levantada e dobrada anunciavam uma irremediável ligeireza, que depressa se iria manifestar em questões de substância e mesmo de simples sobrevivência.
A seguir ao preâmbulo cómico, Varoufakis resolveu apresentar sete reformas, que em princípio justificariam o dinheiro que ele pretendia da Alemanha. Essas reformas, para espanto geral, eram: a criação de uma espécie de Tribunal de Contas, a legalização do jogo online, “cortes” no orçamento dos ministérios, uma amnistia fiscal e uma caça ao IVA com a prestimosa ajuda de estudantes (naturalmente, de esquerda) e de turistas. Não vale a pena perder tempo com este programa, excepto para dizer que mesmo os portugueses mais profissionalmente patetas se ririam dele. O Syriza só conseguiu até agora mudar o nome da “troika” para a designação mais branda de “instituições”, um triunfo digno da glória clássica da Grécia, que não lembraria ao Diabo pedir.
Entretanto, e para convencer a Europa e o mundo de que estava no rendoso papel de vítima, o Syriza tomou algumas medidas sem exemplo. Acusou Portugal e a Espanha de conspirarem para a sua queda. Ameaçou com um referendo (não se apurou ainda exactamente a quê) e também com eleições (não se percebe a que propósito). O ministro da Defesa, de extrema-direita, ameaçou a Alemanha de a “inundar” de imigrantes clandestinos e, sobretudo, de “jihadistas”. E o primeiro-ministro Tsipras reabriu o problema (fechado com o acordo das duas partes entre 1960 e 1990) das indemnizações da Alemanha pela invasão e ocupação da Grécia durante a II Guerra Mundial: Tsipras pede agora 162 mil milhões de euros, metade da actual dívida do Estado, que ele continua a declarar que não paga. Varoufakis, num intervalo lúcido, reconheceu há dias que a Europa se “irrita” hoje com ele. Não sei o que sentem os gregos que ele se obstina a levar para o isolamento, a desordem e a miséria. De qualquer maneira, a história do Syriza é uma lição para a esquerda, do Bloco ao PS. Esperemos que aprendam.
                             

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