sexta-feira, 26 de março de 2021

ANTÓNIO BARRETO

 

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

O Antro, por António Barreto!!!

 


“É simplesmente desmoralizante. Ver e ouvir os serviços de notícias das três ou quatro estações de televisão é pena capital. A banalidade reina. O lugar-comum impera. A linguagem é automática. A preguiça é virtude. O tosco é arte. A brutalidade passa por emoção. A vulgaridade é sinal de verdade. A boçalidade é prova do que é genuíno. A submissão ao poder e aos partidos é democracia. A falta de cultura e de inteligência é isenção profissional.
Os serviços de notícias de uma hora ou hora e meia, às vezes duas, quase únicos no mundo, são assim porque não se pode gastar dinheiro, não se quer ou não sabe trabalhar na redacção, porque não há quem estude nem quem pense. Os alinhamentos são idênticos de canal para canal.
Quem marca a agenda dos noticiários são os partidos, os ministros e os treinadores de futebol. Quem estabelece os horários são as conferências de imprensa, as inaugurações, as visitas de ministros e os jogadores de futebol.
Os directos excitantes, sem matéria de excitação, são a jóia de qualquer serviço. Por tudo e nada, sai um directo. Figurão no aeroporto, comboio atrasado, treinador de futebol maldisposto, incêndio numa floresta, assassinato de criança e acidente com camião: sai um directo, com jornalista aprendiz a falar como se estivesse no meio da guerra civil, a fim de dar emoção e fazer humano.
Jornalistas em directo gaguejam palavreado sobre qualquer assunto: importante e humano é o directo, não editado, não pensado, não trabalhado, inculto, mal dito, mal soletrado, mal organizado, inútil, vago e vazio, mas sempre dito de um só fôlego para dar emoção! Repetem-se quilómetros de filme e horas de conversa tosca sobre incêndios de florestas e futebol. É o reino da preguiça e da estupidez.
É absoluto o desprezo por tudo quanto é estrangeiro, a não ser que haja muitos mortos e algum terrorismo pelo caminho. As questões políticas internacionais quase não existem ou são despejadas no fim. Outras, incluindo científicas e artísticas, são esquecidas. Quase não há comentadores isentos, ou especialistas competentes, mas há partidários fixos e políticos no activo, autarcas, deputados, o que for, incluindo políticos na reserva, políticos na espera e candidatos a qualquer coisa! Cultura? Será o ministro da dita. Ciência? Vai ser o secretário de Estado respectivo. Arte? Um director-geral chega.
Repetem-se as cenas pungentes, com lágrima de mãe, choro de criança, esgares de pai e tremores de voz de toda a gente. Não há respeito pela privacidade. Não há decoro nem pudor. Tudo em nome da informação em directo. Tudo supostamente por uma informação humanizada, quando o que se faz é puramente selvagem e predador. Assassinatos de familiares, raptos de crianças e mulheres, infanticídios, uxoricídios e outros homicídios ocupam horas de serviços.
A falta de critério profissional, inteligente e culto é proverbial. Qualquer tema importante, assunto de relevo ou notícia interessante pode ser interrompido por um treinador que fala, um jogador que chega, um futebolista que rosna ou um adepto que divaga.
Procuram-se presidentes e ministros nos corredores dos palácios, à entrada de tascas, à saída de reuniões e à porta de inaugurações. Dá-se a palavra passivamente a tudo quanto parece ter poder, ministro de preferência, responsável partidário a seguir. Os partidos fazem as notícias, quase as lêem e comentam-nas. Um pequeno partido de menos de 10% comanda canais e serviços de notícias.
A concepção do pluralismo é de uma total indigência: se uma notícia for comentada por cinco ou seis representantes dos partidos, há pluralismo! O mesmo pode repetir-se três ou quatro vezes no mesmo serviço de notícias! É o pluralismo dos *papagaios no seu melhor!
Uma consolação: nisto, governos e partidos parecem-se uns com os outros. Como os canais de televisão.
*Papagaios não, chilreada de periquitos sim!*”

António Barreto


Um povo que não lê, um povo que pensa que cultura pouco vai além do palrar umas alarvidades, discutir futebol, discutir aquilo que consideram ser política, discutem figuras, dão umas caneladas naqueles que não partilham o mesmo ponto de vista, e no fim, tudo bem espremido, temos uma mão cheia de nada, o vazio das ideias, a triste constatação que no geral este povo não passa de uma tribo revolta de analfabetos funcionais, além dos disfuncionais, pois está claro!!!
Na minha modesta opinião, eis o fruto daquilo a que muitos ainda hoje chamam de liberdade e de democracia, confundiram liberdade com libertinagem e democracia com uma verdadeira ditadura de ignorantes, imbecis e analfabetos, no geral temos uma sociedade muito mais inculta do que aquilo que havia há 50 anos, eram analfabetos, poucos tinham cursos superiores mas, é muito fácil de ver ainda hoje, um qualquer idoso com uma quarta classe de antigamente dar um banho de cultura a muitos daqueles que hoje ostentam o seu curso superior!!!
Tudo se resumia ao mérito, vontade e orgulho em fazer mais e melhor, facto que nos dias de hoje se esfumou, hoje vivemos o culto da aparência, do compadrio e da cunha, sendo o melhor exemplo o estado em que se encontra a administração pública, um feudo da rapaziada com o já tradicional cartão do partido, raios os partam!!!

Quando um qualquer Ronaldo ofusca grandes vultos da nossa cultura, tais como, Camões, Agostinho da Silva, Fernando Pessoa e tantos outros vultos da nossa cultura, está tudo dito.

Alexandre Sarmento

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