O que fazem camponeses da Tailândia, na estrada para a Zambujeira do Mar? O que faz um sikh, com o seu turbante e uma cana de pesca, próximo do Carvalhal? Por quem esperam os nepaleses sentados em posição de flor de lótus, ao pôr do sol, junto ao Brejão? Para onde vão os cidadãos bengalis que caminham cobertos de pó próximo da Azenha do Mar? Não estão de passagem. Não são forasteiros. Não são turistas. São dali, tão dali como o vietnamita que passa pelas ruas de São Teotónio, o paquistanês ou o cambojano, o bielorrusso, o búlgaro, o indiano, o ucraniano, o tailandês, o guineense e o cabo-verdiano, o holandês e o alemão, o romeno e o azeri, o marroquino, o brasileiro, o moçambicano, o francês, o chileno, o peruano, o moldavo, o cubano, o angolano, o dinamarquês e o inglês e também o russo que, vindo da loja chinesa, acabou sentado ao lado de um alentejano. Outrora, quando um compadre passava na rua, o mais provável era encontrar alentejanos como ele, nascidos onde morreram os avós de ambos. Mas essa é só uma das muitas razões que tornam as pessoas de um certo lugar. E é por isso que o que tornou a vila de São Teotónio um lugar universalmente concêntrico foram as mesmas razões que levaram os filhos dos tais compadres a emigrar.
Há cerca de uma década, os grandes produtores mundiais de frutos vermelhos descobriram no sudoeste alentejano um clima abençoado para a cultura intensiva destes frutos. Solos arenosos e água, muita água, graças ao Perímetro de Rega do Mira. E então tudo mudou. Mudou a paisagem. Mudou a demografia. Mudou o tecido social. Estufas pintaram de branco hectares e hectares de território, quase até à fronteira do mar. Atualmente, na freguesia de São Teotónio, as zonas de cultivo já rondam os 1100 hectares, com tendência expansionista.
Em breve, dizem os produtores, Portugal será o maior produtor de frutos vermelhos da Europa. E um dos maiores do mundo. Até lá, o mundo vem aos poucos para Portugal. Já deu origem à maior de todas as vagas migrantes na região, com passaporte asiático. São Teotónio transformou-se numa verdadeira multinacional. Entre os que estão de passagem e os que ficam, os legais e os clandestinos, os que vieram e os que já estavam, o que é estatística e não é, são eles a mão de obra para as macroexplorações hortofrutícolas que invadiram a região.
É trabalho duro, de sol a sol, debaixo de quilómetros de estufas, a temperaturas altíssimas. Moram onde for preciso, onde for mais barato, onde caibam muitos e se pague pouco. Alguns comem e dormem ao lado do posto de trabalho. Outros, em pensões sobrelotadas de zero estrelas, em casas decrépitas, em residenciais improvisadas, em campismos selvagens, em contentores. Por todos os meridianos da freguesia de São Teotónio a sua presença é de tal forma evidente que se tornaram uma espécie de pessoas invisíveis, seres das estufas, que podem não constar nos últimos censos, mas também não contribuem para os números do desemprego do concelho. Em dezembro de 2014, as pessoas inscritas há um ou mais de um ano no Centro de Emprego de Odemira eram 95,3 por cento de nacionalidade portuguesa. Cidadãos da Europa de Leste, 0,6 por cento. Brasil, 0,3 por cento. Países asiáticos: zero.
DESCANSO. Longe das estufas, a vida faz-se mais devagar
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É claro que estes números não traduzem a realidade. As pessoas em situação precária de cidadania não vão ao centro de emprego. Mas os números não deixam de ser avassaladores. Quase tanto como os estimados lucros dos colossos da fruta vermelha ou dos vegetais instalados na região. Por junto, ultrapassaram os 100 milhões de euros. A exportação da framboesa apresentou lucros de 64 milhões de euros. Sendo que 90 por cento da framboesa produzida em Portugal é deste concelho. Estas indústrias estão a dinamizar a economia de Odemira, pelo menos nas folhas de Excel. E o fluxo de imigrantes, que é incessante, está a fazer o mesmo com a economia paralela. De qualquer das formas, os imigrantes, como um segredo, são a alma do negócio.
Dada a escassez de mão de obra portuguesa, e a pouca atração por este tipo de trabalho, as empresas tiveram de recorrer ao trabalho importado. Há diversas firmas de angariação de trabalhadores a atuar na região, sendo a mais relevante a DFRM International, israelita, que já abriu sucursal em Odemira. Como esta empresa, há várias outras, sobretudo espanholas e búlgaras. A densidade populacional do concelho de Odemira é baixíssima e envelhecida. Pela sua delicadeza, a colheita de frutos vermelhos não permite a mecanização. O trabalho manual é essencial. Em São Teotónio, vivem atualmente mais de vinte nacionalidades. Uma riqueza cultural só comparável com a cultura dos frutos vermelhos, com a framboesa a ocupar o trono, o mirtilo a debutar, a amora a aguardar e o morango em vias de extinção.
RESIDENCIAL ALGURES
Quando não estão nas estufas, os trabalhadores estão um pouco por toda a parte. Mas é como se estivessem escondidos na evidência. Não gostam de estranhos nem de perguntas. As portas são para fechar. Algures na imensa freguesia de São Teotónio, o dono de uma residencial concordou em abri-las, desde que o local não fosse identificado, assim como os seus hóspedes. Toda a gente tem de fazer pela vida. E os donos das residenciais também. Esta, estava claramente sobrelotada. Mas o dono disse logo que, comparado com o que andava por ali, era um hotel de cinco estrelas. Moravam ali uns 30 homens, de diversas nacionalidades.
Em baixo, estava um grupo de nepaleses, sentados num sofá na reforma, à espera que o cozinheiro tailandês concluísse a sua tarefa. Tirando este, ocupado com o tacho e a colher de pau, todos passeavam um telemóvel. Já tinham tomado duche. Iam comer. Depois iam dormir, numa espécie de camaratas com beliches. O despertador coletivo ronda as seis da manhã. Às sete, alguém os vem buscar para o trabalho. De madrugada, são às dezenas na vila, à espera das carrinhas que os levam para os campos. São muito jovens. A maior parte não tem mais de 25 anos.
São do Nepal, em maioria. Há pessoas do Bangladesh, da Tailândia, do Paquistão. As suas proveniências são distintas, mas as histórias nem por isso. Há sempre um angariador que os trouxe até Portugal e sonhos de uma vida melhor. Têm sentimentos ambíguos quando lhes pedem para falar dos sítios que deixaram. Fá-los sentir melhor e pior. Fugiram de ortodoxias, de perseguições, de guerras, de catástrofes naturais, de todos os tipos de pobreza. Resta-lhes gastar o menos que podem, para ver se a vida lhes oferece mais qualquer coisa. Surge um rapaz tailandês, com um telemóvel melhor que os outros. É o supervisor do grupo. E quer saber o que estamos ali a fazer. Pôs-se ao telefone. E depois do telefonema, já ninguém tem mais nada para contar. Dizem-nos apenas que há quem viva bem pior que eles, mesmo no meio das estufas.
Alguns nepaleses esperam que o cozinheiro tailandês termine o almoço
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Habitantes das estufas
A travessia de um mar de estufas tem algo de bíblico. É como se enormes ondas brancas abrissem veredas por entre um labirinto de pó estacionário, sob o calor do Alentejo. Um calor que no verão, época alta da produção de frutos vermelhos, só dá tréguas quando lhe apetece. A escassos quilómetros, fica a linha de costa vicentina, onde se abrigam as mais belas praias de qualquer paraíso. Geralmente, o interior e o litoral guardam entre si uma distância mais vasta. Aqui, parecem um daqueles casais que vive há séculos partilhando território sem comunicar.
Aqui, faz calor mesmo quando não está. Passava pouco das sete da tarde e não se ouvia um ruído, nem mesmo longínquo, nem mesmo do mar. Se as estufas não estivessem em aprumo, podia ser o cenário de um filme pós-cataclismo. Se fosse o caso, havia sobreviventes. Ao fundo, um aglomerado de contentores, que tinham roupas em estendais, improvisados nas traseiras, onde também se encontravam latrinas. Era uma espécie de acampamento metálico, com duas filas opostas de contentores, como se tivessem tombado enormes retângulos do céu, para lhes dar alojamento. Formavam um longo corredor, que funciona como a única rua do sítio, com o chão plastificado. Por cima, foi construída uma armação de estufa. Se a chuva vier, o acampamento fica debaixo de uma tenda gigante. Sacos de plástico serviam de tapete. Havia chinelos alinhados à porta, cabides pendurados em arames, inúmeros garrafões de água vazios, a reluzir, peças de roupa, sapatos gastos dentro de caixas de fruta, junto com alguns apetrechos, do trivial ao específico, como uma bola de sepak takraw, desporto popular na Tailândia.
Algumas portas estavam abertas, para arejar. Durante a noite, o calor é insuportável dentro dos contentores, mesmo para quem esteve o dia inteiro a trabalhar sob o efeito de estufa. Aparentemente, não estava ninguém. A meio, os contentores são separados por um estrado e paredes de madeira, que protegem a entrada para o balneário. Mais ao lado, havia mesas com tachos, com um enorme plástico negro a acumular funções de toldo e de parede. Ao centro, uma janela rasgada, onde surgiu a cabeça do único residente que ali estava, àquela hora. Não falava português, arranhava o inglês. Disse “Wait”. E apareceu de corpo inteiro, com o telemóvel em punho. Disse que era do Nepal e que os outros estavam quase a chegar. Só lá estava porque tinha passado mal durante a tarde, colocando a mão sobre o estômago.
Um pouco mais tarde, por entre o pó e os últimos raios de sol, começaram a surgir grupos de mulheres, com lenços a cobrir a boca e a cabeça, caminhando lentamente. Se as estufas do Sudoeste alentejano não estivessem lá para desmentir teorias sobre o espaço e o tempo, podiam estar noutro mundo, regressando de arrozais. Notava-se que estavam cansadas. E um estranho contentamento, que podia estar relacionado com a juventude que se demonstrava a cada lenço retirado. Ou por ter terminado mais um dia de trabalho.
Ali, já moraram mais de 60 pessoas. De momento, não chegam a 40, entre os quais alguns nepaleses, sendo que a maioria são provenientes da Tailândia. As mulheres são todas tailandesas, diz uma das trabalhadoras, trocando risotas com as outras. Está em Portugal há dois meses. Tem 23 anos. Esticou os braços, executando a mimética de um voo charter, para explicar como aterrou aqui. Não conhece nada de Portugal, a não ser o que desfilou pela janela da carrinha que a trouxe do aeroporto atestada de gente como ela.
Homens e mulheres vivem longe da vista
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O seu metro quadrado de Alentejo é ocupado por um colchão, cercado por prateleiras dançantes, com todo o tipo de coisas, do essencial aos condimentos. Tem a vida acantonada naquela partícula ínfima do maior concelho do seu país de acolhimento — 1720 quilómetros quadrados de imensidão. Os homens chegam um pouco mais tarde, por uma questão de logística. Desta forma, as mulheres têm tempo de tratar da higiene, antes de tratar da comida. Uma das mais velhas chegou-se à conversa para tentar perceber quem éramos. Disse algo em siamês, que deixou em sentido a mais nova. Era chegada a altura de explicar como se diz adeus na sua língua-mãe, antes que chegassem os homens. O inglês não era suficiente para traduzir as razões da sua desconfiança. Fez isso através do dialeto próprio do silêncio e dos olhos. À despedida, sorriu. Entrou no contentor, para o seu anexo de mundo, em pleno Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, onde se abriga este planeta de estufas. O seu horizonte não é extenso, porque não lhe sobra o tempo para ver o que está além daquilo que a rodeia. Nem sequer para se deslocar à vila de São Teotónio, a uma dúzia de quilómetros.
A grande muralha da língua
“A imigração no concelho de Odemira não é um problema. É uma oportunidade. Dinamiza a economia local e o desenvolvimento.” Palavras de Deolinda Seno Luís, vereadora da Câmara Municipal de Odemira, com o pelouro da Ação Social. Esta vereadora tem de lidar com uma estranha realidade. A que é ditada pelos números oficiais. E a verdadeira. Odemira abriga uma população com mais de vinte nacionalidades, o que torna a sua função especialmente complexa, por ser demasiado variada e, em simultâneo, demasiado específica.
Trabalho. O dia a dia destes imigrantes é passado nas inúmeras estufas que enfeitam a paisagem da região
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Oficialmente, Odemira tem pouco mais de 26 mil habitantes. “Mas isto não tem adesão à realidade. É mais que o dobro”, assegura. Oficialmente, os imigrantes são cerca de 12 por cento da população. Oficialmente, há 3189 cidadãos estrangeiros com estatuto de residente em Odemira. “Só em São Teotónio a comunidade búlgara tem mais de 3 mil habitantes.” Só as explorações de frutos vermelhos, na época alta, recorrem a uma média de 4500 trabalhadores estrangeiros.” Nem todos estão de passagem”, relembra. Factual, como o destino: todos os concelhos do país viram descer o afluxo de imigrantes. Em Odemira, cresceu exponencialmente. “Estes fenómenos não são novidade. Há mais de 40 anos que os fluxos migrantes são constantes.” Embora a comunidade búlgara ainda seja a maior, os asiáticos ameaçam tomar o seu lugar. Entre estes, os tailandeses estão em maioria. Toda a diversidade que se instalou em Odemira, com incidência na freguesia de São Teotónio, levaram a autarquia a adaptar-se à nova realidade, seja ela formal ou informal. “Pessoas são pessoas, não são números.” Odemira é membro pleno da Rede dos Municípios Amigos do Imigrante e da Diversidade, criou uma Comissão Municipal do Imigrante e traçou um Plano Municipal para a Integração dos Imigrantes, onde é feito um levantamento das características da imigração no território.
Entre todas — como a precariedade habitacional e de alojamento, os fenómenos de “repulsão” ou as dificuldades no acesso à saúde e à educação —, há uma conclusão que se destaca: “O grande afluxo asiático tem um grande problema a nível de acolhimento e integração, que é a barreira da língua, que não permite aceder aos seus direitos e deveres e tem enorme dificuldade em interagir com a população.” Outra das grandes dificuldades, neste caso municipal, é não conhecer exatamente a realidade que deriva das explorações agrícolas que fizeram o concelho disparar na balança das exportações. “Na verdade, o município não tem grande controlo sobre as atividades agrícolas que se fixam no território, assim como a sua mão de obra. Primeiro, porque os licenciamentos são feitos pela tutelas [Ministério da Agricultura e Ministério da Economia]. Depois, porque estamos num parque natural, estas são submetidas à validação do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina e da Associação de Beneficiários do Mira, por causa das questões do acesso ao Plano de Rega do Mira”, diz a vereadora. Em matéria de mão de obra imigrante, cada uma das pequenas, médias e grandes empresas fala por si. Ninguém responde por outros, mas são consonantes num aspeto: a única forma de contornar a falta de força de trabalho local é trazê-la de fora. A Driscoll’s, gigante americano da Califórnia, líder mundial na produção e comercialização de frutos vermelhos, é o agregador produtivo e o grande escoador do sudoeste alentejano. Este ano, a framboesa terá uma produção total superior a 7500 toneladas.
A esmagadora maioria dos produtores de frutos vermelhos instalados na região são parceiros produtivos da Driscoll’s, que tem igualmente várias unidades próprias. Estão todos situados na freguesia de São Teotónio e agregados na Lusomorango — Organização de Produtores, cujo nome resulta da reminiscência dos tempos em que o morango era rei. Congrega 21 produtores numa área de 240 hectares. No ano passado, o seu volume de negócios ultrapassou os 36 milhões de euros. O seu principal acionista é a Driscoll’s.
Um dos produtores mais relevantes desta organização é a Maravilha Farms, próximo da Zambujeira do Mar. A empresa ocupa um lugar no conselho de administração da Lusomorango. Luís Pinheiro, o seu diretor-geral, abrevia a história da empresa: “A Maravilha Farms foi constituída em 2007 e tem sede em São Teotónio. Pertence à Reiter Afilliated Companies, multinacional americana, da Califórnia, com uma história centenária na produção de pequenos frutos. A RAC é o maior produtor do universo Driscoll’s.”
A Maravilha Farms ocupa 80 hectares. Mas, até 2020, pretende duplicar a sua área produção em Odemira. “A produção deste ano, combinando framboesa, mirtilo e amora, será de 1850 toneladas. O que representa uma faturação de cerca de 12,5 milhões de euros.” A framboesa representa 85 por cento da sua produção. A questão da mão de obra é incontornável. “Nos nossos ciclos mais baixos, o número mínimo de trabalhadores é de 300.” No pico máximo, como era o caso, “atinge uma média de 700 trabalhadores”, diz Luís Pinheiro. “A escassez de mão de obra local, assim como a inexistência de habitações para os trabalhadores ou de soluções viáveis para a sua construção, são a maior dificuldade para o crescimento e consolidação deste projeto”, acrescenta.
Não é possível assegurar que todos os trabalhadores estrangeiros nas explorações agrícolas se encontrem em situação legal, a viver em habitações condignas e a descontar para a Segurança Social. Não é preciso olho de lince para perceber que há imigrantes na região a trabalhar e a viver em condições muito precárias, movimentando-se na clandestinidade.
O percurso pelas estufas da Maravilha Farms foi como dar uma volta ao mundo dentro de um forno, conduzidos por um supervisor ucraniano, que vive em São Teotónio há mais de dez anos. Conhece aquelas estufas como ninguém. Um em cada três trabalhadores é tailandês, a juntar a uma dezena de nacionalidades diferentes. Complicado gerir uma multinacional laboral? Diz que não. “Isto não tem a ver com nacionalidades, tem a ver com as pessoas. O segredo está em colocá-las a trabalhar em conjunto. É muito mais produtivo. Dá mau resultado quando se juntam por nacionalidade.” Exatamente como a história do mundo. Texto publicado na edição do Expresso de 5 dezembro de 2015
Numa altura em que os ataques terroristas se multiplicam por todo o mundo, Bruno Cardoso Reis explica como começou a violência política e pergunta: é possível derrotá-los?
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Será possível estudar o terrorismo? Será aceitável tentar compreender o terrorismo? Não é isso o mesmo que aceitar ou perdoar? Há quem ache que a única coisa que é aceitável quanto ao terrorismo é combatê-lo, não conhecê-lo. Mas os clássicos da estratégia há muito que sublinham que para derrotar um inimigo é indispensável conhecê-lo. Para vencer é fundamental compreender o tipo de conflito em que se está envolvido. Há também quem considere que o terrorismo é irracional ao ponto de ser incompreensível, impossível de analisar racionalmente. Isso não só é desmentido pelos estudos sérios do fenómeno, como seria aceitar zonas negras impossíveis de estudar. O terrorismo é demasiado importante para ser deixado apenas a generais, polícias ou políticos.
Podemos realmente aprender com o estudo do terrorismo. O que nos diz a história do terrorismo sobre as suas possibilidades de sucesso? Será o ISIS uma ameaça séria? E será que existem formas de o combater com eficácia? Existirá uma ligação especial entre terrorismo e Islão? E de que forma se deve lidar com essa dimensão de violência religiosa?
O terrorismo não é um fenómeno novo e raramente é bem sucedido
No final de 2015 o terrorismo voltou a ensanguentar as ruas de Paris. Mas o terrorismo não é um fenómeno novo. A primeira grande vaga de terrorismo global foi no final do século XIX, em que um dos atentados mais notórios foi o ataque à bomba, em 1894, aos clientes da esplanada do Café Terminus em Paris. Se recuarmos dois séculos, constatamos que é da França que nos veio o conceito de terrorismo. A palavra “terrorismo” começou a ser utilizada então para designar a defesa da violência política extrema por parte dos Jacobinos, a ala mais radical do novo regime resultado da Revolução Francesa no final do século XVIII.
Robespierre defendeu a violência como necessária à purificação revolucionária
Num famoso discurso em 1794 o líder jacobino Maximilien Robespierre defendeu a violência como necessária à transformação e purificação revolucionária: os virtuosos princípios da revolução “eram impotentes sem o terror”. Mas estes primeiros terroristas jacobinos foram rapidamente afastados do poder. Porém, isso não os levou a abandonarem a sua crença na importância e na legitimidade da violência terrorista na política. Envolveram-se numa série de atentados nos anos seguintes, nomeadamente com o objetivo de assassinar Napoleão. Apesar de repetidos fracassos em atingir os seus objetivos, os escritos dos jacobinos, a defender a necessidade e legitimidade da violência política revolucionária de tipo terrorista, exerceram uma influência poderosa em outros movimentos radicais ao longo do período contemporâneo.
O terrorismo antigo, medieval e moderno
Podemos recuar ainda mais na história do terrorismo. É verdade que o termo terrorismo só surge no final do século XVIII e só se vulgariza para se referir a uma forma de violência política, uma táctica que se nos tornou familiar no final do século XIX. No entanto, os historiadores têm identificado grupos com ideologias radicais que, num passado mais ou menos remoto, adotaram práticas e discursos de tipo terrorista dentro dos constrangimentos ideológicos e tecnológicos da época. Um dos casos mais citado é o dos chamados Sicários, na antiga Palestina, judeus radicais que usavam punhais ocultos e aproveitavam grandes eventos públicos para, misturados na multidão, assassinar impunemente líderes políticos e religiosos do judaísmo que acusavam de cumplicidade com o poder imperial de Roma. Esta resistência do judaísmo antigo contra o Império Romano no século I d.C. acabou por falhar e levar à expulsão dos judeus da Palestina.
Outro exemplo relevante é o da corrente xiita que se tornou conhecida como Hashashin, dirigida pelo misterioso Velho da Montanha, ou seja, o Xeque do castelo montanhoso de Alamut. Eles legaram a palavra “assassino” à Europa da época das Cruzadas, aterrorizada com os ataques suicidas levados a cabo por elementos desta corrente xiita ismaelita. Na verdade, estes ataques raramente visaram líderes cruzados cristãos, foram bem mais numerosos contra líderes da corrente rival sunita. Conseguiram aterrorizar, mas não derrubar o Califado sunita.
Estes movimentos, tal como o ISIS hoje em dia, eram de tipo messiânico – ou seja, acreditavam que pelas suas ações poderiam acelerar o fim do mundo e a vinda de uma nova era paradisíaca de triunfo do verdadeiro Deus. Um fim deste tipo justificava o recurso a todos os meios para o alcançar.
Este tipo de práticas não era, porém, um exclusivo do Oriente. No Ocidente, desenvolveu-se a prática e a doutrina do chamado tiranicídio. Não só os atentados contra soberanos e outros líderes políticos e religiosos eram uma prática relativamente corrente dada a grande personalização do poder como, em torno dela, da Roma pagã antiga até à Europa cristã, desenvolveram-se doutrinas que defendiam que um líder que abusava do seu poder era um alvo legítimo. Ou seja, os terroristas ou assassinos de uns eram os combatentes pela fé ou pela liberdade de outros.
O adeus de Obama, os estilhaços do terrorismo e o petróleo em queda
“Os Estados Unidos são a nação mais poderosa do mundo. Ponto final. É que não há a mínima comparação”. Não se deve começar artigos com uma citação, mas esta frase de Barack Obama no seu último discurso do Estado da União perante o Congresso norte- americano é demasiado boa para ficar no meio deste Expresso Curto. Boa e polémica, porque se pode ser lida como otimista, também tem laivos da arrogância.
O discurso de Obama teve muitas frases boas. O homem que preside aos EUA nos últimos sete anos e que deixa a Casa Branca dentro de um ano sempre foi um mestre na retórica e não perdeu isso com o tempo. Mas é muito criticado por isso, por os seus discursos estarem cheios de vento e palavras bonitas. O de ontem foi bastante sólido na parte económica, na capacidade que os americanos têm de reinventar a sua economia e de ultrapassar crises.
As principais críticas para a maioria republicana foram na área internacional, com Obama a dizer que os EUA não se podem virar para dentro num momento destes. Lamentou o rancor que dominou a política americana e apelou ao Congresso para autorizar o uso de forças militares contra o Daesh (e votar isso mesmo de forma clara), alertou para os perigos de qualquer discurso anti-muçulmano, desafiou os congressistas a levantarem o embargo a Cuba e prometeu, uma vez mais, o encerramento da prisão de Guantanamo, uma promessa que se arrasta sem fim.
O discurso de Obama decorreu enquanto dez marinheiros e dois pequenos navios americanos estavam sob custódia de militares iranianos. O incidente, mais simbólico do que perigoso, aconteceu quando os dois navios foram intercetados pela marinha iraniana por alegadamente estarem em águas territoriais do Irão. Teerão exige desculpas de Washington mas fez saber de imediato que os militares dos EUA estão bem e em segurança.
Muito mais real é o perigo terrorista do Daesh, que ontem fez o primeiro atentado contra turistas na Turquia. Um bombista suicida infiltrou-se num grupo de turistas à porta da Mesquita Azul, em Istambul, e fez-se explodir, matando dez pessoas, das quais nove alemães. A Turquia tem fortes receitas turísticas e a Alemanha é o país com maior peso nesse setor. O atentado teve esse objetivo óbvio.
Num braço de ferro paralelo, a Turquia prendeu esta madrugada três cidadãos russos por alegadamente estarem ligados ao Daesh e a este atentado. A troca de acusações entre Ancara e Moscovo não para desde que Putin resolveu interferir na guerra civil síria, apoiando Assad, e a força aérea turca abateu um caça russo que entrou por segundos no espaço aéreo turco.
Na Bélgica, a polícia (considerada a pior da Europa no combate ao terrorismo) conseguiu finalmente identificar três casas-refúgio que os terroristas responsáveis pelos atentados de Paris usaram para preparar as suas ações. Ao longo do dia há mais novidades sobre esta investigação que nunca encontrou o principal suspeito.
No meio disto tudo, o Petróleo continua em queda, agora abaixo dos 30 dólares, provocando sucessivas ondas de choque na economia mundial, com os países emergentes a caminho de recessões ou crescimentos anémicos.
Os efeitos são tais que ontem a BP anunciou ir despedir quatro mil funcionários e a brasileira Petrobras reviu todo o seu plano de investimentos e lucros, provocando uma queda brutal das suas ações na Bolsa de São Paulo.
Os sinais de que podemos estar perante uma terceira vaga da crise de 2008 são defendidos por muitos analistas. Depois da crise financeira veio a das dívidas públicas e do Euro e agora a das matérias-primas e países emergentes. Deixo as explicações e respostas para os meus colegas que dominam a poda económica, mas quem leia a imprensa de referência internacional já percebeu que estamos perante um caso sério (e ainda estamos em janeiro…). O melhor é irmos a outras notícias, sobretudo da pátria, onde não há petróleo no Beato nem em lado nenhum, pelo menos para já.
OUTRAS NOTÍCIAS A decisão de Nuno Melo sobre a liderança do CDS deve ser anunciada hoje. O Dário de Notícias escreve que o eurodeputado avança mesmo, num momento em que é, a par de Assunção Cristas, o nome mais forte para suceder a Paulo Portas.
A aventura do regresso das 35 horas semanais para a Função Pública aterra hoje no Parlamento, com uma chuva de diplomas de todos os partidos à esquerda, PS incluído. Em princípio tudo será aprovado, mas não se pense que o tema é pacífico entre as forças políticas que apresentam a reversão da lei que permitiu as 40 horas de trabalho.
PCP, Bloco e Verdes querem que a lei tenha efeitos imediatos e Jerónimo já explicou que nãos e trata de lutar por nenhum novo direito, mas apenas pela reposição de um direito conquistado. Mas o PS está com sérios problemas com o impacto orçamental que a medida pode ter no caso dos vários serviços não terem tempo para se reorganizar. Tudo indica que a discussão será feita no debate na especialidade, onde o partido do governo e as forças que o apoiam terão de se entender… ou não.
Nem por acaso, Pedro Passos Coelho deu uma importante entrevista à Rádio Renascença, onde criticou o governo por estar a reverter tudo o que fez o anterior. ”Se a missão deste governo é desfazer o que o anterior fez, essa missão esgota-se em pouco tempo”, afirmou, aproveitando para criticar duramente as decisões na área da educação e, acima de tudo, mostrar preocupação com a quebra de confiança dos investidores estrangeiros em Portugal. A campanha das Presidenciais prossegue a todo o gás, mas sob alguma indiferença e o medo de uma abstenção que só é normal quando um Presidente tenta a reeleição. Ainda faltam dez dias de campanha e várias sondagens. A próxima é já amanhã no Expresso e na SIC.
No Expresso seguimos a campanha na estrada no Expresso Diário e no Online, gravamos vídeos com comentários todas as manhãs e estamos a recordar os momentos decisivos das Presidências da República desde Spínola até Jorge Sampaio.
O Diário Económico anuncia que a venda do Novo Banco é retomada para a semana, num processo agora liderado pelo ex-turbo Secretário de Estado Sérgio Monteiro. O calendário indicativo vai manter-se na segunda tentativa de vender o banco.
O Banif também está nas primeiras páginas dos jornais económicos e também do Diário de Notícias, que diz em manchete que as filhas de Horácio Roque admitem processar o Estado. Teria Roque, a filha mais velha do falecido banqueiro madeirense, reclama perdas de 555 milhões.
Adeus SG Filtro e SG Gigante. O jornal i afirma que a Tabaqueira vai deixar de produzir estas duas marcas que nos acompanham há décadas.
Nos desportivos, segue-se a para e passo o drama do sportinguista Téo Guttierez, que nunca mais regressava a Lisboa. Parece que dizia que não conseguia voar por não se sentir bem, mas o Record traz na capa uma foto do jogador nas areias de Barranquilla (terra de Shakira e de um famoso Carnaval).
No Porto, a Bola garante que Lopetegui não desiste de receber os prémios referentes aos jogos futuros, numa indemnização que pode chegar aos € 4 milhões. O Jogo informa que Sérgio Conceição, atual treinador do Vitória de Guimarães, está a ganhar força para se mudar para o F.C. Porto.
Rupert Murdoch vai casar-se aos 84 anos com Jery Hall, de 59 anos. O magnata australiano, que tem um império mediático nos EUA e Inglaterra, e a famosa modelo, ex-mulher de Mick Jagger, anunciaram a boda num curto e singelo anúncio no Times (propriedade de Murdoch), como se fazia nos tempos de Downton Abbey.
FRASES “O que é que tem de Omeprazol? Hum... 56 comprimidos… se for eleito já dá para Belém”. Marcelo Rebelo de Sousa a comprar medicamentos numa farmácia de Portalegre
“Eu já disse várias vezes que o meu adversário principal é Marcelo Rebelo de Sousa”. Maria de Belém em visita a um Hospital no Porto
"Eu acho que o professor Sampaio da Nóvoa já é general". Ramalho Eanes na Campanha de Sampaio da Nóvoa
O QUE EU ANDO A LER É pena que Paulo Portas esteja de partida da política, porque o livro que eu ando da reler é uma imensa fonte de metáforas e ideias para discursos carregados de imagens. O Livro dos Seres Imaginários, de Jorge Luís Borges, tem mais de quarenta anos e as personagens que o habitam muitos milhares.
Li este magnífico livro, uma coleção inimitável de seres recolhidos nas infindáveis leituras de Borges, há uns vinte anos numa edição espanhola a que perdi o rasto. Encontrei-o agora numa belíssima edição portuguesa da Quetzal, numa passagem pela Livraria Fonte das Letras, que ganhou merecida fama em Montemor-o-Novo e que, entretanto, se mudou para uma das mais movimentadas ruas de Évora.
Borges é um prodígio de cultura e de síntese, de erudição e simplicidade, conta numa página o que outros fazem em dez, poupa no adjetivo e esbanja na fantasia. É inimitável e este livro só podia ter saído da sua cabeça. É uma delícia sobre a imaginação humana, sobre os seres imaginários que o homem foi inventando ao longo da história para preencher os seus sonhos, medos, temores, ambições e inesgotável imaginação.
Como já disse, este livro é uma fonte inesgotável de metáforas, imagens e analogias. Se a gerigonça pegou de estaca na política portuguesa, imaginemos o que faria este livro nas mãos de deputados com razoáveis dotes retóricos. Uns, poucos, exemplos:
a) O Unicórnio Chinês: “(…) tem corpo de cervo, cauda de boi e cascos de cavalo; o corno que lhe cresce na testa é feito de carne; o pelo do lombo é de cinco cores misturadas; a do ventre é parda ou amarela. (…) O seu aparecimento é presságio do nascimento de um virtuoso. É de mau augúrio feri-lo ou encontrarem o seu cadáver. Mil anos é o fim natural da sua vida”.
b) Os Sátiros: “(…) Da cintura para baixo eram cabras; o corpo, os braços e o rosto eram humanos e peludos. Tinham corninhos na testa, orelhas pontiagudas e o nariz encurvado. Eram lascivos e bêbedos. (…) Os camponeses adoravam-nos e ofereciam-lhes as primícias das colheitas”.
c) O Mirmoleão: “O pai tem forma de leão, a mãe de formiga; o pai alimenta-se de carne e a mãe de ervas. E estes geram o leão-formiga, que é uma mistura dos dois e que é parecido com os dois, porque a parte da frente é de leão, a de trás de formiga. Assim formado, não pode comer carne, como o pai, nem ervas, como a mãe; por conseguinte, morre.”
A lista é imensa e, como se vê, coloca a “geringonça” a um canto. Se este livro fosse distribuído (e lido) no Parlamento, teríamos discursos épicos:
- Vossa excelência pensa que é um Unicórnio Chinês, mas, no fundo, terá o destino de um Mirmoleão!
- Vindo de alguém que se julga um Sátiro, mas não passa de um Lémure, isso é um elogio…
- Você é um reles Cervo Celestial!
- Cale-se, Crocota!
No Expresso Online não há seres imaginários, mas há coisas inimagináveis, porque o mundo não pára de nos surpreender. É só ir consultando o que vamos escrevendo e atualizando ao longo do dia. Ao fim da tarde, temos mais uma edição do Expresso Diário, com notícias e opinião em primeira mão e toda a atualidade organizada. E amanhã, bem cedo, cá estará mais um Expresso Curto.
Hoje é dia do Romeiro e tens que ler esta mensagem desde o início para que se cumpra o refrão!!!
Aprendi que, quem não te procura, não sente tua falta, E quem não sente a tua falta, não gosta de ti. Que a vida decide quem entra na tua vida Mas tu decides quem fica. Que a verdade dói uma vez apenas, e a mentira dói sempre. Por isso, valoriza quem te valoriza, E não trates como prioridade quem te trata como opção.
Quem te magoa, faz-te FORTE; Quem te critica, faz-te IMPORTANTE; Quem te inveja, faz-te VALIOSO; E, às vezes, é divertido saber que… Aqueles que te desejam o pior… Têm que suportar que te aconteça o melhor!!!
- "De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto." (Rui Barbosa)
Milhares de garrafas cor-de-rosa dão à costa na Cornualha
DN
POLDHU BEACH WATCHER
O areal das praias da Cornualha estão tingidos de cor-de-rosa, com milhares de garrafas de plástico
Estima-se que haja 27 toneladas de garrafas de plástico cor-de-rosa no areal das praias da Cornualha, Reino Unido, nomeadamente em Poldhu Cove, e teme-se que ainda mais estejam para dar à costa. São milhares e parecem ser de um detergente para tirar nódoas da roupa, estando a maioria ainda seladas mas algumas abertas.
E U A / MUÇULMANOS: "Uma pequena aula de história."
É bom saber a história dos Povos
Para conhecimento :
Quando os EUA nasceram, no final do séc. XVIII, havia uma grave crise com os muçulmanos do norte da África. Eram povos oficialmente muçulmanos, que viviam sob as leis do Corão.
- Estes islâmicos atacavam os navios que passavam pelo Mediterrâneo, incluindo os americanos, sequestrando, escravizando e matando ocupantes, além de saquear a carga. Os navios americanos eram normalmente protegidos pela marinha inglesa antes da independência dos EUA, mas depois de 1776, era cada um por si. - Os piratas muçulmanos cobravam fortunas para resgate dos reféns e os preços subiam sempre a cada sequestro bem sucedido. Thomas Jefferson opôs-se veementemente aos pagamentos, mas foi vencido pelo voto. Os EUA e as outras nações com navios sequestrados, aceitavam pagar os resgates e subornar os piratas. O Presidente americano era George Washington. - Por volta de 1783, Thomas Jefferson, Benjamin Franklin e John Adams vão para a Europa como Embaixadores, para negociar tratados de paz e cooperação. Os EUA nasceram em 1776 e desde então, estavam mergulhados na Guerra de Independência. Assim que a situação acalmou, essas três grandes figuras saem em missão diplomática para representar o país. - Em 1786, depois de dois anos de conversações diplomáticas com os islâmicos, Thomas Jefferson e John Adams encontraram-se com o embaixador dos povos que ficavam na região de Trípoli, actual Líbia, chamado Sidi Haji Abdul Rahman Adja. Jefferson estava incomodado devido aos ataques que não acabavam, mesmo com todos os esforços de paz. Quis saber por isso, com que direito os muçulmanos continuavam a sequestrar e a matar os americanos. - A resposta que ouviu, marcou Jefferson para sempre: "o Islão foi fundado nas Leis do Profeta, que estão escritas no Corão, e diz que todas as nações que não aceitarem a sua autoridade são pecadoras, que é direito e dever declarar guerra contra os seus cidadãos onde puderem ser encontrados e fazer deles escravos; e que todo o muçulmano que for morto na batalha irá de certeza para o Paraíso." Jefferson ficou chocado. Ele não queria acreditar que uma religião literalmente mandava matar todos os que considerava infiéis e que quem morresse na batalha iria para o paraíso. - Durante 15 anos, o governo americano pagou os subornos para poder passar com seus navios na região. Foram milhões de dólares, uma quantia que representava 16% de todo orçamento do governo federal. O primeiro presidente do país, George Washington, não queria ter forças armadas permanentes, por não ver riscos de ataques ao país, mas os muçulmanos fizeram mudar esta ideia. Os subornos serviriam para evitar a necessidade de ter forças militares permanentes, mas não estavam a funcionar porque os ataques continuavam. Quando John Adams assume a Presidência dos EUA, as despesas sobem para 20% do orçamento federal. - Em 1801, Jefferson torna-se no terceiro presidente americano e, mal tinha esquentado a cadeira, recebe uma carta dos piratas aumentando o preço da autorização para navegar naquela área. Jefferson fica louco e, agora como presidente, diz que não vai pagar nada. - Com a recusa de Jefferson, os muçulmanos de Trípoli tomaram conta da embaixada americana e declararam guerra aos EUA. Foi a primeira guerra da América após a independência. A marinha de guerra americana foi criada exactamente para esse conflito. As actuais regiões da Tunísia, Marrocos e Argélia juntaram-se aos líbios na guerra contra os americanos, o que representava praticamente todo norte da África com excepção do Egipto. - Jefferson não estava para brincadeiras. Mandou os seus navios para a região e o conflito durou até 1805, com a vitória americana. O presidente americano ainda colocou tropas ocupando o norte de África, para manter a situação sob controle. Thomas Jefferson ficou realmente impressionado com o que aconteceu. Ele era contra as guerras e escreveu pessoalmente as leis de liberdade e tolerância religiosa que estão na origem da Constituição americana, mas entendeu que o Islão é totalmente diferente, era uma religião imperialista, expansionista e violenta. Jefferson mandou publicar o Corão em inglês em 1806, lançando a primeira edição americana. Ele queria que o povo americano conhecesse o Corão e entendesse aqueles povos do norte da África que roubava, saqueava e matava, cobrava resgates e que declarou guerra quando os pagamentos cessaram. Durante 15 anos, um diplomata de Jefferson chegou a dizer, que os americanos eram atacados porque não atacavam de volta, sendo vistos como fracos. A fraqueza americana foi um convite para os muçulmanos daquela época, como é hoje para o ISIS. Só houve paz na região quando Jefferson atacou e venceu a guerra, ocupando depois o território. Só assim foi conseguida a paz. Barack Obama quer saber hoje como os muçulmanos estão na história americana? Eles estão como os motivadores da primeira guerra; foram eles que forçaram a criação das forças armadas que nem existiam, e fazem parte até do hino dos marines que começa com "From the Hills of Montezuma / To the shores of Tripoli".
Como é bom e importante conhecer a História Mundial!...
Os Emídios Catuns que nos pregaram um calote de 6,3 mil milhões e andam à solta
Bom dia.
Desculpem, mas não há peru, rabanadas e lampreias de ovos que me façam passar o engulho da fatura que neste final do ano veio parar outra vez aos bolsos dos contribuintes por mais um banco que entrega a alma ao criador, no caso o Banif, no caso mais 3 mil milhões. É de mais, é inaceitável, é uma ignomínia para todos os que estão desempregados ou caíram no limiar da pobreza por causa desta crise e mais uma violência brutal para os que continuam a pagar impostos (e que são apenas cerca de 50% de todos os contribuintes).
Todos nos lembramos do cortejo dos cinco maiores banqueiros portugueses (Ricardo Salgado, Fernando Ulrich, Nuno Amado, Faria de Oliveira e Carlos Santos Ferreira) a irem ao Ministério das Finanças e depois à TVI exigir ao então ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, para pedir ajuda internacional. Todos nos lembramos como o santo e a senha da altura era o da insustentável dívida pública portuguesa por erros de gestão do Governo de José Sócrates. Todos nos lembramos das sucessivas reafirmações de que a banca estava sólida por parte do Banco de Portugal e do governador Carlos Costa. Todos nos lembramos dos testes de stress aos bancos conduzidos pela Autoridade Bancária Europeia – e como os bancos nacionais passaram sempre esses testes. E depois disso BPI, BCP, CGD e Banif tiveram de recorrer à linha de crédito de 12 mil milhões acordada com a troika. E depois disso o BES implodiu – e agora o Banif também. E depois disso só o BPI pagou até agora tudo o que lhe foi emprestado. E antes disso já o BPN e o BPP tinham implodido. E a Caixa vai ter de fazer um aumento de capital. E o Montepio é uma preocupação. É de mais! Chega! Basta!
No caso do Banif, é claro que o governador Carlos Costa tem enormes responsabilidades na forma como o problema acabou por ter de ser resolvido. No caso do BES foi ele também que seguiu a estratégia da resolução, da criação do Novo Banco e do falhanço total dessa estratégia – a venda rápida que não aconteceu, a venda sem despedimentos que também não vai acontecer, os 17 interessados que afinal eram só três, as propostas que não serviam, e o banco que era para ser vendido inteiro e agora vai ser vendido após uma severa cura de emagrecimento. É claro também que a ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, tem responsabilidades diretas no caso, por inação ou omissão. E é claro que o ex-primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, geriu politicamente o dossiê.
Mas não confundamos os políticos e o polícia com os bandidos, com os que levaram a banca portuguesa ao tapete. E para isso nada melhor do que ler o excelente texto que o Pedro Santos Guerreiro e a Isabel Vicente escreveram na revista do Expresso da semana passada com um título no limite mas que é um grito de alma: «O diabo que nos impariu» - ou como os bancos nacionais destruíram 40 mil milhões desde 2008. Aí se prova que houve seguramente muitos problemas, mas que a origem de tudo está no verdadeiro conúbio lunar que se viveu entre a banca e algumas empresas e alguns empresários do setor da construção. Perguntam os meus colegas: «Sabe quem é Emídio Catum? É um desses empresários da construção, que estava na lista de créditos do BES com empresas que entretanto faliram. Curiosamente, Catum estava também na lista dos maiores devedores ao BPN, com empresas de construção e imobiliário que também faliram». E como atuava Catum? «O padrão é o mesmo: empresas pedem crédito, não o pagam, vão à falência, têm administradores judiciais, não pagam nem têm mais ativos para pagar, o prejuízo fica no banco, o banco é intervencionado, o prejuízo passa para o Estado». Simples, não é, caro leitor?
A pergunta que se segue é: e o tal de Catum está preso? Não, claro que não. E assim, de Catum em Catum, ficámos nós que pagamos impostos com uma enorme dívida para pagar que um dia destes vai levar o Governo a aumentar de novo os impostos ou a cortar salários ou a baixar prestações sociais. Mas se fosse só o Catum… Infelizmente, não. O ex-líder da bancada parlamentar do PSD, Duarte Lima,deixou perdas tanto no Novo Banco como no BPN. Arlindo Carvalho, ex-ministro cavaquista, também está acusado por ilícitos relacionados com crédito concedido pelo BPN para compra de terrenos. E um dos homens fortes do cavaquismo, Dias Loureiro é arguido desde 2009 por compras de empresas em Porto Rico e Marrocos, suspeita de crimes fiscais e burlas. Mas seis anos depois, o Ministério Público ainda não acusou Dias Loureiro, nem o processo foi arquivado.
Dos 50 maiores devedores do BES, que acumulavam um crédito total de dez mil milhões de euros, «o peso de construtores e promotores imobiliários é avassalador». No BPN, «mais de 500 clientes com dívidas iguais ou superiores a meio milhão de euros deixaram de pagar». E a fatura a vir parar sempre aos bolsos dos mesmos. Por isso, o artigo de Pedro Santos Guerreiro e Isabel Vicente é imperdível. Para ao menos sabermos que o que aconteceu não foi por acaso. Que muita gente não pagou o que devia ou meteu dinheiro ao bolso – e esperou calmamente que o Estado viesse socializar os prejuízos enquanto eles privatizaram os lucros.