segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Assunto: Enc.: Quanto vai durar o Governo de esquerda?


 

 
J Quanto vai durar o Governo de esquerda?

Os três partidos que vão apoiar o Governo de António Costa (PS, PCP e BE, porque Os Verdes são um adereço) têm naturezas diferentes e têm motivações diferentes.
Comecemos pelas motivações.
A motivação do PS é a sobrevivência do seu líder – e, à boleia desta, conseguir uns milhares de lugares pelo país fora. Toda aquela gente que foi varrida dos lugares há 4 anos tem esperança de regressar.
Por isso, nunca tive dúvidas de que a coligação à esquerda seria aprovada pela esmagadora maioria do Partido Socialista. Quem se filia nos partidos do centrão tem sempre em vista conseguir um lugarzinho público…
A motivação do BE é diferente. Os bloquistas não estarão à espera de muitos lugares. O seu objetivo é outro: é uma espécie de ‘certificação de importância’. Tendo crescido muito eleitoralmente, o BE quer agora ter estatuto, quer ser reconhecido pelo regime. E também é evidente que Catarina Martins está deslumbrada pela importância que ganhou, parecendo encandeada pelos flashes das câmaras dos fotógrafos e pela atenção mediática.
A motivação do PCP é outra ainda. Tendo sido ultrapassado pelo Bloco de Esquerda nas eleições, agarra-se a esta entrada na área do poder como a uma boia de salvação. O PCP estava em risco de se tornar irrelevante em termos parlamentares – e assim torna-se de repente decisivo em qualquer votação. A queda do Governo depende dele.
Estas são as motivações dos três partidos. Outra coisa diferente é a sua natureza.
A natureza do PS é a de um partido burguês. Fundado por um bon vivant chamado Mário Soares, é profundamente anticomunista na sua génese. Inscreviam-se no PS aquelas pessoas da oposição ao Estado Novo que não queriam nada com o Partido Comunista. O PS é herdeiro do Partido Republicano, que se distingue radicalmente dos comunistas.
Além disso, ao contrário do PCP, o PS não é um partido operário. É um partido, como se disse, da burguesia, e a sua força decorre do voto e não da presença nas comissões de trabalhadores, nos sindicatos, etc. É um partido de eleitores, que vale pelo número de pessoas que nele votam em cada eleição.
O BE é também um partido de eleitores, mas com estruturas muitíssimo mais frágeis do que o PS. Não tem implantação operária, nem sindical, nem nada. Ora, um partido de esquerda sem implantação operária é um fenómeno conjuntural. Vive muito de lideranças pontuais e do seu mediatismo. Ontem era Francisco Louçã, hoje é Catarina Martins. A sua votação é um carrocel. Já esteve à frente do PCP, já desceu muito abaixo, voltou a subir, pode voltar a baixar. Depende do momento. Aposta tudo na queda do PS e em atrair parte do seu eleitorado mais à esquerda.
O PCP é totalmente diferente dos outros dois. Esse, sim, tem implantação operária. Não é um partido de eleitores mas um partido de militantes e de células. Mantém uma estrutura leninista. Não vale sobretudo pelos votos mas pela sua influência na Intersindical e na implantação nas comissões de trabalhadores, nos sindicatos, etc. Não quer aparecer nas manchetes, como Catarina Martins, quer ter influência no mundo do trabalho.
Por isso, a sua força ultrapassa em muito o seu resultado eleitoral, ao contrário do BE, que depende inteiramente dele.
Ora, como é que estes 3 partidos vão funcionar no apoio a um Governo?
O PS vai apoiar o Governo até ao fim, como é óbvio, porque é um Governo seu e porque, quando cair, lá se vai António Costa e lá se vão os lugares.
O BE também vai esticar ao máximo a continuidade do Governo. Só existindo no Parlamento, com pouca influência fora dele, o BE vai tentar levar o mais longe possível a legislatura. E quando esta acabar, vai atirar as culpas para o PS. Porque o seu objetivo é canibalizar o PS, visto que o eleitorado do PCP é muito estável e disciplinado.
A maior incógnita é o PCP. O qual, ao contrário dos outros dois, não vai transigir nos princípios. A maleabilidade tática dos comunistas é muito pequena. Como Jerónimo já disse, vai votar tudo o que, no seu entender, for a favor dos portugueses, e recusar tudo o que for contra. Ora isto vai provocar, mais cedo ou mais tarde, a queda do Governo, porque obrigatoriamente surgirão medidas que o PCP considerará serem ‘contra os portugueses’ e votará contra.
Assim, prevejo que António Costa vá ver-se muitas vezes entalado entre as exigências de Bruxelas e a inflexibilidade dos comunistas. E a corda partirá por um lado ou por outro. O PCP recusar-se-á obstinadamente a aprovar certas medidas -- e Bruxelas acabará por partir a louça, os juros começarão a subir e a situação tornar-se-á insustentável.
Pelo que tenho observado, duvido que a coligação dure mais de um ano. Note-se que o PS tem de negociar medida a medida, lei a lei, com o PCP e com o BE. Isto é esgotante. E quando as coisas aquecerem começam as greves, as manifestações da CGTP, etc., criando muito mal-estar na coligação. O ódio entre comunistas e socialistas regressará. E quem procurará retirar dividendos dos estilhaços será, como se disse, o Bloco de Esquerda.
Quando o Governo cair, o PCP ficará como dantes e o PS verá o seu eleitorado encolher brutalmente. Porque nessa altura ninguém confiará no Partido Socialista. Os eleitores moderados já não cairão noutra -- e votarão no PSD. Os esquerdistas votarão no BE. E o PS só ficará com os históricos, com os fieis, que não são muitos.
jas@sol.pt
 

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

ACORDO ORTOGRÁFICO

Terça-feira, 17 de Novembro de 2015

UMA PEROLAZINHA DE PORTUGUÊS QUE ENCONTREI ONTEM NO FACEBOOK


CASAMENTO.png
(Origem da imagem: Internet)

Nem mais nem menos a seguinte legenda na fotografia de casamento de uma senhora que não vou identificar por motivos óbvios:

«JÁ LAVAM 19 ANOS A ATURAR TE» - assim, tal e qual.

Esta senhora não pertence à geração acordista.

Também não é da minha geração.

Nem da geração dos nossos pais e avós…

Conclusão: levando em conta que “lavou” durante 19 anos um casamento, com mais uns 25, idade com que começaria essa “lavagem” temos uma senhora da geração pós 25 de Abril.

Não me surpreende que “lavasse” os 19 anos de casamento.

Porque logo após o 25 de Abril (e digo isto com conhecimento de causa porque era professora na época, e sem a mínima saudade do dia 24) o que fizeram com o ENSINO da Língua Portuguesa, e aliás com o ensino em geral?

Reduziram-no ao simplex, porque decretaram que a partir dessa data, as crianças e os jovens portugueses seriam mais estúpidos do que todos os que nasceram anteriormente, e precisavam de que se lhes facilitasse a aprendizagem, porque a política era e continuou a ser: quando mais inculto for um povo, mais submisso será…

Até que alguém se lembrou de compactuar com o famigerado Acordo Ortográfico de 1990, que nasceu de algo parecido ocorrido no Brasil, para diminuir a taxa de analfabetismo que, naquele país, era elevadíssima, e para tal decidiram estropiar a Língua Europeia e Culta que herdaram dos ex- colonizadores Portugueses.

Agora, porque valores económicos mais altos se levantaram, querem porque querem impingir-nos essa língua estropiada.

Só que a Língua Portuguesa é de Portugal.

E a Língua Brasileira é do Brasil.

E que cada País fique com a sua.

Porque “lavar” um casamento de 19 anos… é algo que não se faz em público…

Isabel A. Ferreira
publicado por Isabel A. Ferreira às 16:09

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segunda-feira, 16 de novembro de 2015

MACROSCÓPIO

Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!



O tema do Macroscópio de hoje não podia ser outro: os atentados de Paris. Mas confesso a imensa dificuldade em procurar guiar-vos pelas muitas análises, comentários e opiniões publicadas um pouco por todo o mundo nos últimos dias. Vou por isso seguir um primeiro critério: evitar as simples manifestações de choque e solidariedade, não porque não tenham valor, nem porque não tenham sido escritos textos belíssimos, mas por pensar que é mais útil tentar compreender e procurar discutir o que fazer.

A seguir, e por uma questão de comodidade começo pela comunicação social portuguesa, onde encontrei menos textos interessantes do que se esperaria e exigiria. Eis um breve apanhado:
  • O medo e o resto, de Jorge Almeida Fernandes, no Público, um texto que cita vários especialistas e onde se sublinha que “O terror do EI tem um desígnio estratégico com muitos vectores: demonstrar a força dos jihadistas e galvanizar os adeptos, provocar a partir do medo recíprocas reacções de ódio para romper as críticas pontes entre a Europa e as suas comunidades islâmicas e, enfim, fazer inflectir a política dos Estados europeus que intervêm na Síria, no Iraque ou na África, e também dissuadir os outros de o perseguirem.”
  • Esta guerra, o islamismo e a nossa cobardia moral, que eu próprio escrevi aqui no Observador, assumindo logo de entrada que “Não tenho certezas, tenho dúvidas. E estou assustado por perceber que a guerra já começou e não discutimos as questões centrais e incómodas”. Nesse texto elenquei cinco dessas questões (mas um número bem maior de desafios): 1. Estamos em guerra? Sim, estamos. E o que quer isso dizer?; 2. Vamos sacrificar liberdades em nome da segurança? É bem provável; 3. Teremos de falar de novo de “Choque de civilizações”?; 4. Vai tudo ficar igual no acolhimento aos refugiados? Não, não vai; e 5. O islamismo é um totalitarismo? É, e como tal tem de ser tratado.
  • O principado de Zouheir, de Helena Matos, também aqui no Observador, onde a autora elogia conta a história de Zouheir, o “segurança que impediu a entrada de um dos terroristas no estádio onde decorria o França-Alemanha”, um herói cuja cara não conhecemos porque ele tem medo. Mas não só ele: o medo tolhe a acção coletiva. Por exemplo: “nós vivemos o esboroamento do centro e trocámos as convicções pelas indignações: às primeiras imagens de uma operação mal sucedida e aos primeiros homens caídos, político europeu algum fora do Reino Unido resiste às “manifestações pela paz”, até porque logo os seus rivais usarão esse apelo como argumento eleitoral”.
  • O regresso da barbárie, de Carlos Gaspar, no Público, onde o autor defende que “a resposta mais eficaz contra os atentados do "Estado Islâmico" é, por um lado, neutralizar as suas redes europeias e, por outro lado, aumentar a pressão militar contra as suas forças na Siria e no Iraque. O seu prestígio nas alas islâmicas mais fanáticas e radicai, patente no recrutamento de militantes em dezenas de países, incluindo a França, depende da sua capacidade para ocupar uma parte significativa do território da Síria e do Iraque, a única forma de se legitimar como um "Estado Islâmico".”
  • Armadilhados, de Luciano Amaral, no Correio da Manhã, onde se defende que o “Se o objectivo é destruir as sociedades ocidentais democráticas, então o Estado Islâmico sabe o que faz. Ele não espera destruir Paris e a França à força de coisas como esta. Espera é que coisas como esta destruam as sociedades ocidentais por dentro, dividindo-as em grupos que se confrontam sobre a forma como lhes responder e sobre a forma como lidar com as cada vez maiores comunidades islâmicas no seu interior.
  • Paris fica na Síria, de Rui Ramos, no Observador, sublinha também a existência dessas divisões, notando que “Seria de facto crítico que, perante o terrorismo, encontrássemos ministros dependentes de quem não é capaz de condenar um crime sem elaborações duvidosas, ou considera que os EUA ou Israel, neste caso como em todos os casos, é que representam a culpa e a ameaça. Não pode haver dúvidas sobre o empenho de quem governa na defesa dos valores ocidentais e do nosso modo de vida.” (E há sempre quem se lembre de o fazer, mesmo em alturas como esta, como é possível ver neste texto inclassificável de Hermínia Saraiva no Diário Económico, Quantas mortes separam as Lajes do Tribunal de Haia?, que ao fim da tarde de hoje até já tinha desaparecido da listagem das opiniões online daquele órgão de informação.)
  • Estou farto de ouvir dizer que a culpa é nossa!, de Henrique Monteiro, No Expresso, um texto onde se reforça esta ponto defendendo que “o melhor serviço que poderíamos prestar ao Daesh, os mandantes destes crimes, seria alterar o nosso estilo de vida; mudar a nossa mundivisão e com ela recusar os refugiados e os migrantes. Temos de saber viver entre assassinos e temos de ser melhores a detetá-los. Isso passa também por não tornarmos em heróis os que, volta e meia, “descobrem” que todo o mundo é espiado.”
  •  



Do muito que foi publicado na imprensa internacional, aqui fica uma selecção do que me pareceu mais interessante e pertinente (vou tentar ser muito breve e sintético):
  • A proclamation against Isis, the party of death, do historiador Simon Schama, no Financial Times, que defendeu que gritássemos bem alto os princípios de que nunca abdicaremos: “They are the ones enshrined in the words of those who first articulated the imperatives of free speech: religious toleration; the right to civil peace; resistance to tyranny and theocracy. They are integral to the imperishable statements of Jefferson, John Milton and John Locke, but also Montesquieu, Voltaire, Condorcet, Emmanuel Levinas.”
  • How many more people have to die before we stop appeasing Islamists? Why aren't we standing up to the enemy within?, de Charles Moore, no Telegraph, onde se argumenta a favor da ideia de que “no civilisation can survive without the means of defending itself, and those means include an expeditionary capacity. Diplomacy, foreign policy and trade have to be backed up by the ability to project force across the world to support our allies and confront our enemies. In this generation, most of our leaders have abandoned this idea. Now they seem surprised that we are left weak.”
  • L’effroi et le sang-froid, de Jérôme Fenoglio, director do Le Monde, para quem “En ce début de XXIe siècle, le fanatisme religieux, en l’espèce islamiste, a remplacé les grands totalitarismes du XXe siècle. Comme Le Monde l’a souvent expliqué, l’islamisme, par son absolue radicalité, est un totalitarisme – cette promesse folle de régler tous les aspects de la vie des hommes au nom d’une religion érigée en unique source de rédemption. Or ce « parti des purs », pour reprendre l’expression du grand politologue Pierre Hassner, s’en prend prioritairement aux démocraties. Il nous combat autant sinon plus pour ce que nous sommes que pour ce que nous faisons ou ne faisons pas.”
  • «C'est notre civilisation qu'ils veulent détruire», uma entrevista de Pascal Bruckner ao Le Figaro, onde o escritor antecipa, de alguma forma, o discurso que ontem François Hollande fez aos deputados franceses: “Il faut suspendre immédiatement les garanties constitutionnelles des djihadistes incarcérés. Les isoler dans des centres fermés, éviter qu'ils exercent une action de prosélytisme délétère dans les prisons. Les individus suspects doivent être considérés comme coupables et mis hors d'état de nuire, là aussi par l'expulsion ou l'emprisonnement. Enfin, l'État devrait, surtout si les pleins pouvoirs sont votés, mettre en marche le service action qui avait été déclenché par de Gaulle contre l'OAS [um grupo de extrema-direita]”.
  • After the carnage, a common cause, de Kori Schake, um investigador da Hoover Institution, no Politico, que escreveu que “The work of building common cause is arduous, and we have been avoiding it, hoping the forest fire raging across the Middle East would burn itself out. Even with hundreds of thousands of refugees fleeing from Syria’s dangers, defanging the cause that put them to flight wasn’t under serious consideration. Now hard things will be asked of us, as allies and as defenders of freedom.”
  • Europe must confront failed integration, de Douglas Murray, no Telegraph, onde se toca num dos temas mais sensíveis e mais polémicos: Primeiro: “These people know that the actual terrorism is committed by a small segment of the Islamic community. But they also know that too many people urge on that small segment or think it is in some way justifiable.” Depois: “Where are the people who pretend that an immigrant from a Muslim background and an immigrant of Christian background are equally likely to integrate into France?”
  • Fábricas de terroristas, do professor e investigador Fernando Reinares, um especialista em terrorismo e em processos de radicalização, um texto no El Pais que começa enterrando o dedo na ferida: “En 2010, el año antes de iniciarse la guerra civil en Siria, había en el mundo unos 1.600 millones de musulmanes. Apenas el 1,25% de ellos en Europa Occidental. Sin embargo, los procedentes de Europa Occidental constituyen al menos el 20% de los entre 25.000 y 30.000 que han viajado a aquel país para unirse al Estado Islámico, el Frente Al Nusra u otras organizaciones yihadistas.”
  • Europe’s Terrorist War at Home, de Ayaan Hirsi Ali, a activista somali que tem denunciado o radicalismo islâmico, no Wall Street Journal, que sustenta deverem os líderes europeus “do their own proselytizing in Muslim communities, promoting the superiority of liberal ideas. This means directly challenging the Islamic theology that is used by the Islamist predators to turn the heads and hearts of Muslims with the intent of converting them into enemies of their host countries.” Mais: para ela há vários problemas nas políticas europeias de imigralção, nomeadamente porque “It is too easy to gain citizenship without necessarily being loyal to national constitutions; it is too easy for outsiders to get into European Union countries with or without credible claims for asylum.”
  • Do Paris terror attacks highlight a clash of civilisations?, de Gideon Rachman no Financial Times, um texto que discute um dos temas que suscitei na minha crónica, como já referi atrás. O que o autor faz neste texto é descrever como, um pouco por todo o mundo, há sinais de preocupantes de tensão entre comunidades, para depois defender que essa tendência deve ser contrariada: “The confluence of these developments in North America, Europe, the Middle East and Asia is fuelling the idea of a clash of civilisations. Yet the reality is that the Muslim and non-Muslim worlds are intermingled across the globe. Multiculturalism is not a naive liberal aspiration — it is the reality of the modern world and it has to be made to work. The only alternative is more violence, death and grief.”

Poderia continuar, mas hoje fico-me por aqui. Julgo que abri muitas portas diferentes e muitos caminhos de reflexão por vezes contraditórios. Enquanto escrevo, as televisões continuam a mostrar imagens de manifestações de solidariedade, da observação de minutos de silêncio, chegam-me aos ouvidos as estrofes da Marselhesa. Mas estes ainda são os dias em que todos dão as mãos. Veremos como a realidade se vai desenvolver, certos de que teremos de regressar ao tema com frequência. Porventura por tão más e tristes razões como as de hoje.

Bom descanso, boas leituras e até amanhã.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

UM ACORDO REACCIONÁRIO

Opinião

Um acordo reaccionário


Sem ironias, António Costa revelou-se um negociador admirável, de uma estirpe que o país não conhecia desde o professor.

Depois de António Costa ter enganado os eleitores (com uma coligação de que não se sabia), ter enganado o PSD e o CDS (com reuniões que não queria) e ter enganado o presidente da República (com um acordo que não havia), resta uma única esperança para Portugal: que António Costa prossiga a sua admirável senda de aldrabice política e consiga no futuro próximo enganar igualmente o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista. As intrujices de Costa nunca deveriam ter chegado tão longe, mas já que chegaram, é rezar para que continuem, na expectativa patriótica de que quem vira quatro vezes à esquerda acabe por regressar à direcção certa.
Sem ironias, António Costa revelou-se um negociador admirável, de uma estirpe que o país não conhecia desde o professor Oliveira Salazar. Tal como a formiga de José Afonso, Costa furou, furou, furou sem parar, transformando uma derrota por muitos numa sucessão de vitórias por poucochinho. E a verdade é que neste momento, apoiado num acordo com mais buracos do que um queijo suíço, ele já conseguiu içar meia perna para o cadeirão de São Bento, perante a comoção generalizada da esquerda lusitana.
Conta-se que Manuel Alegre, recordando a sua infância em Argel, terá mesmo derramado uma lágrima sobre o documento, enquanto abraçava espiritualmente Jerónimo de Sousa. O mesmo Jerónimo de Sousa que declarou acerca de tão histórico acordo — o tal que nem orçamentos de Estado dá garantias de aprovar que ele foi aceite por “unanimidade informal”, um género de unanimidade que o PCP costuma obter sempre que não leva propostas a votos. Parece que é isto a “solução estável, coerente e credível” que o presidente da República exigiu.
Receio bem que a esquerda portuguesa não tenha cura: ela irá sempre preferir um soneto a um quadro Excel, e nunca acreditará que a política não é um dos ramos da literatura. O entusiasmo juvenil que por aí anda, após António Costa ter ido à televisão apresentar um novo programa socialista corrigido com 70 medidas que variam entre o aumento da despesa e a diminuição da receita, não pára de me espantar. Segundo os socialistas, o país está péssimo e a austeridade da direita foi uma tragédia. E no entanto, tão horroroso horror foi suficientemente eficaz para que o PS tenha agora dinheiro para acomodar no seu programa o faustoso pagamento do apoio do Bloco e do PCP.
Após vários flic flacs e mortais encarpados, chegamos a isto: o actual programa da coligação PSD-CDS tem mais medidas de Mário Centeno do que o próprio programa do PS. Mas quem se chateia com isso? Tirando Francisco Assis, Sérgio Sousa Pinto e poucos mais, o Largo do Rato vive dias felicíssimos. É a vitória de Maria Antonieta: “Não há pão? Comam acordos históricos.” Nada ali está quantificado, não há qualquer visão de fundo para a economia portuguesa, nem um só micróbio reformista sobreviveu. Sobrou apenas o objectivo de travar a austeridade e acabar com as privatizações. É uma pura coligação negativa mas, ainda assim, a esquerda canta e dança, vaporosa e feliz.
Oh, sim, este é um acordo absolutamente novo. Mas é um acordo absolutamente novo para nos manter num Portugal absolutamente velho. Se António Costa acreditar naquilo que está a assinar, estamos tramados. Para utilizar uma linguagem que a esquerda conhece bem, este é o protótipo de um acordo reaccionário uma triste união de forças conservadoras que tem como único objectivo manter um status quo que o país já não consegue pagar.
Jornalista (jmtavares@outlook.com)




GENERAL ALCAZAR, ANTÓNIO COSTA

Sobre o General Alcazar, perdão, António Costa

Autor
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Em vez de termos um governo tomando decisões num período crítico, teremos governo que mais que tudo tem de continuamente calar os duvidosos da sua legitimidade e, só a seguir, nos intervalos, governar

Escrevo-vos boquiaberta com a hipocrisia e a amoralidade que tenho visto no PS. A retórica daqueles lados está ao nível de realismo de conceitos como ‘professor Mário Nogueira’, ‘serenidade de Isabel Moreira’ ou ‘feminismo de Manuel Maria Carrilho’.
Vejamos. Temos António Costa, depois de perder eleições e não aceitar a vontade democraticamente expressa dos eleitores, a dizer, na primeira sessão da Assembleia da República, que a coligação tinha ‘mau perder’. O mesmo António Costa, durante o longo tempo de produção de um ‘acordo’ (e agora vou ingerir metade de um frasco de xarope para me eliminar a tosse quase fulminante) das esquerdas – o tal que é tão sólido que nem contempla votações favoráveis aos orçamentos apresentados pelo PS e menos ainda é acordo de coligação – afirmou que não ia deixar o país num pântano, tudo enquanto colocava diligentemente o país num pântano.
Carlos César, num clímax de alucinação, disse (juro!) que ‘o PS não procurou ser governo a qualquer custo’ – o mesmo PS que prometia chumbar o governo de dez dias gerado pelos resultados eleitorais, apresentando em troca um acordo resvés que promete nenhuma estabilidade ou durabilidade. António Costa, ontem no debate em que deitou abaixo o governo acabado de estrear, criticou crispado a falta de disposição de PSD e CDS para não viabilizarem a governação socialista-trotskista-estalinista, dizendo que os partidos da futura oposição estão ‘focados no revanchismo e animados pela obstrução’.
E a minha preferida. O reincidente António Costa, que mentiu às escâncaras ao país afirmando, após as audiências dos partidos com o Presidente, que tinha um acordo com PCP e BE para uma solução estável e duradoura de governo, quando não tinha nada (e agora tem só mais ou menos), proclamou ontem que ‘palavra dada tem de ser palavra honrada’. Preciosidades hipócritas destas não se inventam. Rejubilemos: somos a inveja de qualquer democracia musculada asiática.
(Ainda assim são mais divertidas do que as piadas intencionais que António Costa faz nos seus discursos. Ontem, por exemplo, fez uma bestialmente original. Deleitem-se: ‘Estavam tão ansiosos para me ouvir, agora ouçam-me’. Hein, não é digna dos Monty Python? Os socialistas riram imenso.)
Bom, mas foquemo-nos no que aí vem. E o que virá de António Costa? Ora: aquilo que se costuma esperar de líderes que têm problemas de legitimidade. Já que os ideólogos da suposta união das esquerdas usam a ficção da série Borgen para legitimar o futuro governo (sem atentarem ao fim da coligação periclitante de Birgitte na segunda temporada e a sua escolha de respeitar a vontade eleitoral na terceira temporada, que até os argumentistas são mais sensatos que as esquerdas portuguesas) deixem-me usar ficção ainda melhor (aviso já que num grande exagero ilustrativo).
Escolho o livro Tintin e os Pícaros. Lá, Tintin planeia e implementa um golpe de estado que leva o General Alcazar a presidente. A condição que coloca a Alcazar é de, quando no governo, não fuzilar os anteriores governantes nem os seus apoiantes, o que gera discussões acesas com o truculento aspirante. Depois do golpe, o próprio General Tapioca, o presidente deposto, protesta por não ser fuzilado, sente-se desonrado e termina partilhando um desabafo com Alcazar contra os idealistas como Tintin.
Nas democracias não se fuzilam os opositores, nem aqueles que podem com maior justiça e legitimidade reclamar o poder. António Costa não irá organizar uma secção secreta de black ops dedicada a assassínios políticos. Mas vai ter – já está a ter – todos os tiques daqueles que tomaram o poder de maneira esquiva em vez de o receberem dos eleitores. Em qualquer ocasião pequena terá de fazer demonstrações mesquinhas de autoridade – como na escolha do presidente da Assembleia da República ou mesmo neste golpe palaciano que orquestrou. Tem de se resguardar (no limiar da cobardia política) de possíveis golpes – como fez não interpelando Passos Coelho no debate desta semana e não respondendo a perguntas dos deputados. Pelo que, em vez de termos um governo tomando decisões num período crítico, teremos governo que mais que tudo tem de continuamente calar os duvidosos da sua legitimidade e, só a seguir, nos intervalos, governar.
Mas o mais grave não é isto. Nem sequer que PCP e BE estejam a determinar e tutelar as políticas do governo PS. É que

SIRIZA?

Bem se levou o pais á falência foi pelas mesmas razões que cá, estatismo socialista a subsidiar toda a gente (a patacos) a troco de votos e monopólio de amigalhaços, sem qualquer preocupação com produtividade, transparência ou sustentabilidade, depois quando aparece a conta “a culpa é dos mercados”.
O Syriza queria fazer exatamente a mesma coisa, mas com um “reset” da divida…

HIPOCRISIA E INIQUIDADE

Do mercado da polis – Hipocrisia e Iniquidade
Portugal dá a impressão de andar sempre em campanha eleitoral, sem espaço para discutir nem elaborar programas de governação; parece ser um agregado sociológico de repúblicas (povos) – sem Povo – num arraial antigo, onde ecoam os pregões e os berros.
Quem não tem acções partidárias no mercado da polis resigna, faz da tristeza raiva ou procura consolação na exclamação: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados… também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas, por dentro, estais cheios de hipocrisia e de iniquidade.” (Mt 23. 27-28)
Tal como nos tempos bíblicos, temos conflitos programados e de que bem vivem os escribas/saduceus e fariseus.
A palavra Fariseus ganhou a conotação de hipócrita e de confessos aparentes. Fariseus e Saduceus/Escribas fazem parte da dialética social e são adversários entre si mas quando se trata de defender os próprios interesses sublevam e dividem o povo para poderem legitimar e manter as estruturas do poder que lhes oferece palco seguro para se afirmarem (manipuladores do povo matam Jesus para depois lavarem as mãos na “inocência do povo” que os legitimou). Inteligentes como serpentes, encontraram e encontram uma estratégia comum que lhes dá segurança na ocupação dos cargos de prestígio da nação e a maioria dos postos no Sinédrio. A inveja e a ganância atiçam-nos uns contra os outros, a ver quem mais come enquanto o povo olha e ladra para enganar a fome.
A ganância humana torna-se apetite desenfreado. Se não fosse o apetite que seria do saborear!… Mas o povo cada vez mais habituado ao fastio vai perdendo o apetite e o caracter, fomentando ainda mais os apetites dos poucos.
O apetite partidário é tanto que chega a não distinguir o que já lhe estreborda do prato. Victor Hugo dizia “em tempo de revolução, cuidado com a primeira cabeça que rola. Ela abre o apetite ao povo”. Por essa razão andará tanta gente à volta de algumas cabeças; o problema delas será nunca se saciarem; por isso se tornam cães de guarda ou feras.
Todos mereceram a crítica do Mestre da Judeia porque adorando ídolos e não Deus mostravam-se como os mais dignos de respeito entre o povo. Uma reflexão pessoal e nacional, para ser salutar a nível de comunidade, deveria passar a considerar a dialética polarizante como mal menor a ser ultrapassado processualmente no serviço de um bem maior que é o todo de tudo em todos. Premissa da relação: o outro que permite identificar-me é o tu que dá consistência à minha ipseidade (eu-tu-nós) que se expressa na relação do eu-tu inclusivo a realizar Jesus Cristo.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo www.antonio-justo.eu

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

CLARA FERREIRA ALVES


Em 1980, durante o primeiro governo da AD, com Cavaco Silva, as
pensões de reforma passam a ser atribuídas a beneficiários no fim do
exercício de certas funções independentemente de estarem ou não em
idade da reforma.
Uma pessoa podia exercer o cargo de administrador do Banco de
Portugal ou da CGD durante um ou meio mandato, e tinha direito à
reforma por inteiro a partir do momento em que saía da instituição.
Não recebia na proporção do tempo que lá tinha estado ou da idade
contributiva. Recebia por inteiro. E logo. Na banca pública, podia
acontecer o que aconteceu com Mira Amaral, que, segundo Cristina
Ferreira, depois de ter gerido a CGD, "deixou o banco com estrondo".
"Na sequência disso, Mira Amaral reformou-se." Ao fim de dois anos.
Segundo ele, quando se reformou teve direito a "uma pensão de 38 anos
de serviço, no regime unificado, Caixa Geral de Depósitos e Segurança
Social. Depois de ter descontado desde os 22 anos para a Caixa Geral
de Aposenta­ções". O que é certo é que Mira Amaral recebe uma parte da
sua reforma do fundo de pensões da CGD, que está em "austeridade",
acumula prejuízos e recorreu a fundos públicos para se capitalizar.
Mira Amaral trabalha como presidente-executivo do BIC, dos angolanos
em concorrência com o banco do Estado.
Não é o único. Jorge Tomé, presidente do Banif, banco que acumula
prejuízos, que não conseguiu vender as obrigações que colocou no
mercado e que recorreu a fundos públicos, estando 99% nacionalizado,
foi do Conselho de Administração da Caixa. Pediu a demissão da Caixa
quando foi para o Banif, mas teve direito a "pedir reforma por doença
grave", segundo ele mesmo. A "doença grave" não o impediu de trabalhar
no Banif e, no texto de Cristina Ferreira, não esclarece qual o
vínculo que mantém com a Caixa.
A CGD paga a cerca de uma vintena de ex-administradores cerca de dois
milhões brutos por ano. Dois destes ex-administradores, António Vieira
Monteiro do Santander Totta e Tomás Correia, do Montepio Geral, junto
com Mira Amaral, recebem reformas (totais ou parciais) do fundo de
pensões da CGD, trabalhando, repito, em bancos da concorrência.
As reformas mensais destes três ex-gestores, que não são ilegais,
porque a lei autoriza o trabalho depois da reforma e descontaram para
o sistema de previdência social, andavam entre os 16.400 e os 13.000
euros brutos.. Depois dos cortes situam-se à volta dos 10.000 euros
brutos.
À parte esta perversão, legal, o Estado resolveu, para abater a dívida
pública, comprar os fundos de pensões da banca, das seguradores e de
empresas privadas como a PT, comprometendo-se a pagar no futuro as
pensões aos seus trabalhado­res.
Resta demonstrar se o capital desses fundos de pensões será suficiente
para os compromissos das pensões presentes e futuras ou se o Estado se
limitou, para equilibrar as contas naquele momento, a comprometer todo
o sistema público de Segurança Social e aposentações. Porque os fundos
eram, são, vão ser, iinsuficientes
A partir de agora, as pensões da banca privada passaram,
simplesmente, a ser responsabilidade pública. Tolerando-se, como se
vê pelos exemplos, a acumulação de pensões de reforma públicas com
funções executivas privadas e concorrentes.
O advogado Pedro Rebelo de Sousa, presidente do Instituto Português
de Corporate Governance, IPCG, não vê nisto nenhum problema, nem
sequer na legitimidade de o Estado pagar reformas (incluindo,
supõe-se, por invalidez ou ao cabo de dois anos de mandato) a
ex-gestores da CGD que agora presidem a grupos rivais. Diz ele que "a
reforma é um direito adquirido".
E eu que pensava que a reforma dos pequenos reformados, dada a troika
e a austeridade, era um falso direito adquirido como os ideólogos e
teólogos deste governo e da sua propaganda não se cansaram de nos
fazer lembrar."
Clara Ferreira Alves, em "REVISTA" 10 Ago, 2013
Questiona-se a forma como foi negociado este compromisso. Se nos
guiarmos pelos exemplos do passado, será fácil de perceber que o
negócio vai sair caro aos portugueses e beneficiar os que venderam os
seus fundos de pensões, ao triste estado que nunca tem quem o
represente com lealdade.
Talvez daqui a uns 10 ou 12 anos, tal como as PPP e outras
trafulhices, esta também venha a público.
Nota: Mira Amaral, que foi ministro nos três governos liderados por
Cavaco Silva e é o mais famoso pensionista de Portugal devido à
reforma de 18.156 euros por mês que recebe desde 2004, aos 56 anos,
apenas por 18 meses, de descontos como administrador da CGD.